terça-feira, 16 de novembro de 2010

Parto.

Andando pelos bosques do bairro da burguesia silenciosa deparei-me com o fato que já não podia esconder. Avistei meu ventre e ele estava grande. Grande foi minha vergonha ao perceber que depois de todos esses anos esse feto maligno, partícula maldita que adentrou em mim nem sei quando, mas que não saiu, e só cresceu, estava pronto para a saída.

Foi naqueles idos dias de sol. Primavera, outono? Mal sei. Era um reflexivo céu azul que contrastava seu silêncio com meu caos interno. E por que toda essa agonia?

Não sei.

Na verdade eu não sei direito por onde começar. A discrição do cenário já foi e ocupou expressivos parágrafos, mas tenho a impressão que alguma coisa falta.
Aliás, é uma impressão constante da minha vida.

Sim, algo precisa ser completado. Em mim. E eu preciso completar algo. No mundo. Em alguém. Quem sabe assim a parte vazia seja preenchida, por pedaços do meu Eu.

Mas retomemos à narração.

As contrações voltaram, elas sumiam e emergiam como dejetos no mar. Cada vez que aparecia, uma nova ânsia de vômito se fazia presente. Quem sabe se naquele momento meu egoísmo não permitiria que eu vomitasse esse trecho moribundo da minha existência.

Mas já estava na hora.
Ali naquele parque nostálgico percebi que deveria expurgar de meu âmago mais aquele defeito. Era um novo que nascia. O defeito do caos.

Ele era como todos os outros quando recém nascido. Feio e simplório.

O caos me irritava porque era o defeito dos outros.
Os outros eram desordeiros, primitivos, grosseiros.

Mas esse defeito nasceu para me mostrar o contrário. Eu que era uma bagunça.

Só que ele nasceu em um novo contexto, pois naquela paisagem silenciosa, eu estava mais madura. Seja por livre arbítrio, seja pelo tempo, o fato é que as circunstâncias mudaram radicalmente. Tanto que eu parti de um estado de matéria-prima para produto semi-elaborado.

Eu deveria ter terminado esse texto há tempos, mas o caos modificou mina forma de ver o mundo, ele me mostrou que as pessoas mudam, eu mudo, o mundo muda, mas permanecemos sempre os mesmos.

E no que fica, temos um novo defeito que nasce e cresce; no que se vai, eu parto pra minha maturidade um tanto despreparada, descontraida, mas uma maturescência que emerge e faz partir o tempo em duas partes: de onde eu parti, para onde eu partirei.

domingo, 17 de outubro de 2010

Corpo e Espírito.



A vida terrena é um lago que reflete a árvore da vida espiritual. Pedras serão jogadas nesse lago, mas a essência, ou seja, a árvore continuará sendo refletida a medida que a tempo passar e o espírito se purificar.

sábado, 9 de outubro de 2010

Irritante.

Confesso, meus caros, que ando um tanto quanto displicente com esse blog.
Peço que me perdoem.

Mas... prossigamos.

Esses dias eu vi um filme ai sobre o holocausto, dentre tantos filmes sobre esse assunto, e - parece batido pensar isso - mas é horrível imaginar milhares de judeus sendo carregados em trens por viagens, as vezes de vários dias, para campos de concentrações onde perdiam as roupas, os cabelos e a vida, quando os carinhas da SS sentavam o cianídrico nas câmaras. É triste saber que pouca gente se dava conta dessa situação, como são tristes as situações que passam e não nos damos conta da gravidade. Nós, no caso, a grande massa de pessoas. Nós, a força. Nós, o povo.

Isso tudo é tão triste quanto os bois que saem do complexo Maranhão-Tocantins-Piauí , de trem inclusive, para o complexo São Paulo-Minas Gerais onde engordam e são "abatidos", isto é, os donos de gado sentam o machado nos bichos para atender a demanda brasileira e ir para a barriga desses sudestanos. E temos o orgulho, ou melhor, inchamos o peito pra dizer que somos o maior produtor e exportador de carne do mundo.

Claro. A comparação pode, para alguns observadores perspicazes, parecer muito grosseira, mas existem algumas diferenças notáveis: os judeus eram a raça inferior que ficava entre o ser humano e o macaco como dizem uns nazistas por ai e por isso eram exterminados, enquanto que os bois são mortos depois de uma rigorosa seleção zootécnica antidarwinista na qual os melhores são exterminados. E se eu falo isso para qualquer carnívoro sou imediatamente taxada de tolinha, jovens revoltadinha, que no fundo adora um bifão, fora os comentários de anêmica pscicótica, como se a ausência de carne fosse responsável até mesmo pelos meus problemas pessoais.

Crentes, homossexuais e carnívoros têm em comum a mania de explicar sua felicidade pela sua condição e o irritante hábito de cobiçar prosélitos, como se o mundo fosse bom para todos se fosse do jeito que teoricamente é para eles.

Mas tudo bem.

Eu prefiro o mundo do jeito que ele é, com divergências, injustiças, tolices, pois são elas que nos obrigam a tomar uma posição e lutar pela paz, justiça e bom senso pois afinal, qual seria a graça de um mundo com tudo igual e certo sem nenhum problema para resolver, se a graça está na diferença na incerteza? Qual a graça de uma vida sem aventura, com certezas e apenas belezas? Qual a beleza do belo sem a presença da feiura? Como saber que ser feliz é intensamente bom sem passar pelos momentos de tristeza?

Eu me amo, mas amo muito mais aquilo que é diferente de mim, pois desperta minha curiosidade. Não se trata de me desvalorizar, pois amar mais não anula os amores anteriores, simplesmente implica multiplicação de amor, não divisão.

Eu amo os animais e tenho nojo de cadáver. Adoro carnívoros, crentes, tolos e muito mais homossexuais, mas - cá entre nós - eu repudio as pessoas que acham tudo ótimo e se conformam com as coisas do jeito que elas são, considerando que se dão conta da realidade. Mais do que meu nojo, elas merecem a minha piedade, e a piedade de todos nós que queremos um mundo melhor.

domingo, 12 de setembro de 2010

Lindos olhos de oceano.

Essa vida aqui, meus camaradas, passa e acaba. Isso é profundamente simples.

Acordei, uns dias atrás, me sentindo mais velha. Talvez é o tempo que agora passa mais rápido, meu olhar que já não é mais o mesmo, o brilho do meu sorriso, que não tem a intensidade de outrora, quem sabe os fios dos meus cabelos que não cintilam como antigamente...

Mas o fato é que tudo passa. E vai passando sempre. O que temos de nosso? O que carregamos? Ganhamos? Perdemos? Conquistamos? Vivemos? Amamos? Sofremos? O que ficou?

-Calma.

Vamos organizar as ideias.

Temos a nossa consciência e nela carregamos o peso das nossas atitudes, ganhamos a oportunidade de aprender com os obstáculos, perdemos tudo o que nos prende aos grilhões da mediocridade e estagnação. Vivemos por algum motivo que cabe a cada um descobrir; amamos para compartilhar nosso egoísmo com alguém que também sente essa necessidade, e com isso podemos fazer boas ações; sofremos para não repitirmos um erro, não aprendemos e então sofremos novamente.

-O que resta?

Muita coisa.

Restam aqueles que não aprenderam ainda que tudo passa. E são numerosos. E se prendem a qualquer coisa. Pobres escravos de um instante que já passou, ou que nunca passará, infelizes que continuam no martírio eterno, habitantes de um inferno contruído com suas proprias ideias.

-E o que eles fazem?

Eles choram, culpam deus e o mundo por sua desgraça."Por que perdemos o que amamos?" Dizem eles. " Por que não morremos de um vez?" Vociferam.

-Coitados.

Ninguém perde o que ama, a não ser que perca o amor que sinta, ou seja, só perdemos um amor quando deixamos de amar. Desistimos de amor. Somos fracos. Existem pessoas fortes, assim como existem os que aguentam e os que não insistem, os que perdoam e os que carregam mágoas, o cara que passa na usp em engenharia em primeiro lugar e os que não conseguem nem mesmo passar da primeira fase, enfim, os vencedores e os fracassados.

Não morremos de um vez porque não é uma decisão nossa, mas do tempo. O prazo de validade, quando expira - algumas vezes demorado, nos vovozinhos, outras prestíssimo, como nos podres fetos de moças que abortam - não respeita nossa vontade.

-E o que fazer?

E ainda precisa? Ah,sim. Devemos fazer o essencial se quisermos. Quando agimos dessa forma, aproveitamos da melhor maneira aquilo que está dentro das nossas possibilidades. É o Horaciano " Carpe Diem". Mas dá até medo falar dele. Hoje temos tantas distorções no belo, que este se tornou banalizadamente frívolo.

Mas vamos parar com esse solilóquio sobre coisas óbvias. Estou tremendamente cansada.

-Não falamos nem mesmo dos olhos de oceano...

Ah, mas que saudade daqueles glóbulos bastante penetrantes, singelos e adoráveis.

Eram belos olhos que eu conquistei com os meus, carreguei no fundo do coração, amei como a mim mesma e perdi para a natureza maior.

Perdi um pedaço de mim. Mas ganhei uma parte do mundo.

Absurdos.

O Concílio de Constantinopla – 553 D.C.

Texto de Vivaldo de Araujo, professor e procurador de
Justiça do Estado de Goiás.

Até meados do século VI, todo o Cristianismo aceitava a Reencarnação que a cultura religiosa oriental já proclamava, milênios antes da era cristã, como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para rever seus erros e recomeçar o trabalho de sua regeneração, em nova existência.

Aconteceu, porém, que o segundo Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.

É que Teodora, esposa do famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa, temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através da criminosa intervenção do general Belisário, para quem os desejos de Teodora eram lei.

E assim, o Concílio realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias ( Mateus 11:14 e Malaquias 4:5 ).

Agindo dessa maneira, como se fosse soberana em suas decisões, a assembléia dos bispos, reunidos no Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que reencarnação não existe, tal como aconteceu na reunião dos vaga-lumes, conforme narração do ilustre filósofo e pensador cristão, Huberto Rohden, em seu livro " Alegorias ", segundo a qual, os pirilampos aclamaram a seguinte sentença, ditada por seu Chefe D. Sapiêncio, em suntuoso trono dentro da mata, na calada da noite: " Não há nada mais luminoso que nossos faróis, por isso não passa de mentira essa história da existência do Sol, inventada pelos que pretendem diminuir o nosso valor fosforescente ".

E os vaga-lumes dizendo amém, amém, ao supremo chefe, continuaram a vagar nas trevas, com suas luzinhas mortiças e talvez pensando - " se havia a tal coisa chamada Sol, deve agora ter morrido ". É o que deve ter acontecido com Teodora: ao invés de fazer sua reforma íntima e praticar o bem para merecer um melhor destino no futuro, preferiu continuar na ilusão de se poder fugir da verdade, só porque esta fora contestada pelos deuses do Olimpo, reunidos em majestoso conclave.

Texto de Vivaldo de Araujo, professor e procurador de
Justiça do Estado de Goiás.

E tem gente que ainda tem capacidade de dizer que no Juizo Final o nosso corpo desperta.

Salve Salve os japoneses de Hiroshima, os judeus dos campos de concentração e as infelizes vítimas de furacões e derivados.

sábado, 4 de setembro de 2010

Semeadora de sorrisos.

Ah, e aquela garota que cresceu e amou e sonhou: continuava igual. Certamente mais leve, tranquila, equilibrada, madura, humana. Mas a mesma.

Delicadeza de menina, entregava sorrisos como flores primaveris para cada mancebo que pelo seu coração passava. Pena que apenas mancebos indiferentes e desprovidos de bom gosto enveredavam nos confins do seu interior. Desprezavam-na como se despreza uma lesma, uma folha qualquer que cai da árvore e de nada serve, de nada contribui. Importante ela se sentia, como se sentem as pessoas que pegam o busão lotado, o metrô entupido e ainda acham que um dia o mundo será melhor.

Lamentável.

Um dia ela resolveu mudar, como fazem todos os tolos que se cansam de serem infelizes, explorados, inúteis, fracos e impotentes. Doravante resolveu guardar seus sorrisos para os seres perspicazes. Então ela passou a olhar feio, ser horrível, vestir-se mal, usando apenas do respeito e polidez para com os outros.
A racionalidade é lucrativa. Quando as emoções se distanciam, a inteligencia e a concentração se fazem mais fortes e auxiliam a realização de um bom trabalho.

Coitada...

Ela esqueceu que somos seres humanos, e não escolhemos quem colhe nosso coração. No máximo optamos por entregá-lo aos poucos que vivem procurando algum. Pelo menos para isso temos autonomia. Pena que não sabemos o que fazer com ela.

A risonha garota voltou a sorrir, mas de uma maneira diferente.
Leve, tranquila, equilibrada, madura, agora ela sorria para os apreciadores de um bom sorriso.

Hoje ela não sente mais a necessidade de receber sorrisos de recompensa, porque o desejo de algo que não foi conquistado, é a colheita do fruto verde: são sorrisos falsos.

Como é belo o sorriso ingênuo. Sem compromisso, simples, iluminador.

sábado, 21 de agosto de 2010

Graça divina.

Estava andando por ai, quando de repente um velho conto húngaro que li, nos idos tempos de escola, me veio à mente. Trata-se de um caboclo que fazia cirurgias de catarata manuais, conhecido por sua destreza em realizar a tarefa. Apesar de fazê-la da maneira mais boçal possível, em breves minutos cortava e deixava seu "paciente" sem nenhum resquício da patologia. O sujeito não sabia ler ou escrever, nem mesmo tinha ideia do que era catarata, mas resolvia o problema com facilidade admirável. Porém, quando conhece um médico estudado, doutor e tudo mais, que lhe explica o funcionamento de um olho, em seus ínfimos detalhes, nunca mais consegue pegar numa faca.

Na época que li esse conto - num alegre sol de verão – o separei na memória e pensei em um dia parar para pensar profundamente nele. O dia chegou. Ou melhor, já está mais do que na hora do dia chegar. Desculpem-me, agora é noite.


Meu segundo pensamento foi que talvez a ignorância seja uma benção. Entretanto vejo que não é tão simples assim. A verdade é que o conhecimento trás consigo certa carga de maldição. Conhecer nos liberta de grilhões típicos do senso comum e é saudável, todavia, sufoca o espírito e o faz sofrer pois lhe dá a responsabilidade de carregar uma informação e o trabalho de opinar sobre o que foi absorvido pelo cérebro, além de nos forçar a agir. Parece idiota, mas não é. Se sei o que é certo e errado - sem cair no cerco da moralidade, estou falando de ética - não tenho direito de errar; se sei as possíveis consequências de minhas atitudes que para existirem só depende obviamente de mim, não posso argumentar que as "circunstâncias", outras pessoas ou o meio me impediram de cumprir meus deveres. Milagres impressionam tolos sem instrução.

Não sei se é pra rir ou chorar, mas o tempo passa, se é que existe mesmo, e entre o que vai e o que fica, algumas certezas se destacam: além da morte, podemos afirmar com toda firmeza que o ato de conhecer sinceramente algo nos eleva para um patamar tal que nunca mais voltamos para o estagio anterior, o do desconhecimento. Não quero bancar a arrogante, porque também faço parte dos desgraçados estúpidos, mas deixar claro que conhecer, mesmo tentar como faço eu por todos esses árduos 17 anos, não é pra fracos, mas é possível, necessário, e além do bem que fazemos para os outros, é a bagagem que levamos dessa vida.

Já entrando no campo da fantasia, podemos ilustrar com a biblia. Reza a lenda que uma tal "Eva" e um tal "Adão" foram expulsos de um certo paraíso por comerem do fruto da árvore que "Deus" proibiu. Nas palavras da cobra:" 'Deus' sabe que no dia em que dele [o fruto] comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como 'Deus', sabendo o bem e o mal". Ou seja, o tal "deus" é tão misericordioso que para o bem de seu filho é mais interessante deixá-lo inerte na graça da ignorância, perdido no paraíso da cretinice do que lhe desgraçar com o horrível fruto da sabedoria. Patético. Porque a verdade não é agradável. É mais facil aceitar o que já está pronto, do que fazer. Pensar dá sono. Se a carochinha existisse, pediria a ela que me levasse até a casa do Lúcifer, pois lá poderiamos refletir.

Voltando a realidade, eu, a caminho da cama e aos comprimentos da madrugada, tenho uma sensação semelhante à do caboclo. Parece que a sabedoria pegou nojo de mim.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Dona Ilusão.

Ah, essa vida que passamos 98% perdidos em divagações no passado ou no futuro e esquecemos do mais importante: o presente.
Esses dias atrás eu resolvi pensar no passado com olhar crítico, sem esse romantismo boboca que costuma embalar as recordações como páginas divinas. E pasmem, descobri impressionada que tudo o que sonhei com bastante perseverança, e que dependia de mim, aconteceu. E não é mentira. Entenderam? Eu repito: TODAS as minhas conjecturas sobre o que poderia ser, de fato tornaram-se concretas. Parece estranho, e eu fiquei profundamente chocada, mas é isso o que na realidade acontece, o que sonhamos. Naturalmente não foram coisas do tipo invasão de alienígenas, ou apocalipse da corrupção política no nosso Brasil, porque ai já muita ostentação e um pouco de insanidade, mas coisas normais, até anódinas, porque nosso cotidiano é banal. O interessante é que essas insignificâncias, do pretérito perfeito, compõem o que há de mais extraordinário no futuro do presente, e elas são tão sutis que escapam da nossa percepção num piscar de olhos.

No entanto, e tudo sempre tem o seu outro lado, costumamos nos prender tanto a essas hipóteses que esquecemos da realidade. Ah, como isso é triste. Imaginem - já que a maior parte da vida perdemos dessa maneira - o quanto somos tolos por achar o que seria se "tivesse sido diferente". Completos néscios! Sacrificar o momento mais que sagrado, o ato de ser em um exato momento, para pensar como seria um passado, já morto, idealizado, que aconteceu da maneira que acreditamos e fizemos. Foi ruim? Poderia ter sido de outra maneira? Como somos idiotas, podemos responder que sim, foi ruim porque acabou e que poderia ter sido melhor, mas que a covardia, nossa grande companheira, ou mesmo as prioridades que se fizeram mais necessárias - sejamos otimistas - não permitiram que assim o fosse. Além do que, poderia ter sido muito, exageradamente, pior.

Meu irmão, sujeito bom, uma vez disse, não pra mim mas pra vida, que " tudo no final dá certo, e se não deu, é porque ainda não acabou". Evidentemente a frase não é dele, e nem me interessa saber de quem seja, mas ela vem a calhar. E faz sentido. Fosse diferente e não teríamos esquecido de velhas mágoas enferrujadas. Claro, sempre terão aquelas que vez ou outra insistem em doer e voltam ao pensamento, mas não retornam feito obsessões demoníacas, como a maioria das concatenações que fazemos sobre o inexistente. São leves feridas já cicatrizadas que raramente nos chamam atenção. Isso ocorre porque fatalmente mudamos. Perdemos nossos valores tacanhos, os comportamentos mesquinhos e as ideias reacionárias, e devemos agradeçer por isso ao invés de chorar derrotados, feito crianças que a mamãe proibiu de comer o docinho, que é uma delicia certamente, mas que trás prejuízos à nossa saúde, quando não sabemos nos cuidar.

Não esqueçam meus caros, que o tempo passa, e queiramos ou não, evoluímos todos. Os que concordam com isso caminham com mais velocidade, pois não se submetem aos obstáculos do caminho, e os que discordam insistindo em continuar na mesmice, Emmanuel já alertou: "Cedo ou tarde o anjo da angústia te visitará o espírito, indicando-te novos rumos".

Esse bendito anjo me visitou, como sempre faz, apesar de ser mal recebido. Estava eu tomando um pensativo café quando ele apareceu; obviamente que não lhe tratei com a devida cortesia. Não sou simpática. Conversamos sobre a vida, política, literatura, filosofia, mas não consegui enrolá-lo. Ele tocou no assunto, com muita paciência. O desespero costuma ser educado e, como Jack Estripador, trabalhar por partes. Ah, mas ele é bom, e prometeu demorar a voltar, caso eu me comprometesse a aumentar a parcela dos 2%, pois quanto mais eu aumentar, mais tarde mostrará sua cara pra mim. Saibam ou não, esse cara é assim com todos, mas a maioria nunca cumpre a promessa, isso quando ouvem-na. Eu ouvi, prometi, e agora vou fazer, mas antes que me perca no mundo da Dona Ilusão, deixo a dica: tenham boa memória, mas não percam o dom de saber esquecer; planejem os próximos caminhos, mas sejam sagazes e vivam intensamente nosso presente da vida.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Medo maior.

Cada um guarda dentro de si um pedaço de medo. Para uns é apenas um filete bem pequenino, mas para outros, imenso abismo.
Insetos, altura, palhaços, homens, animais selvagens... Até mesmo do destino sentimos no mínimo receio. Papai me disse alguma vez passada, que devemos ser fortes, e um outro por ai me disse que os fracos desistem.

Claro que não é moleza encarar e resistir a tentação na qual fugimos de um problema. Escapar, esquecer, ignorar, dar uma de hipócrita. Tudo isso é muito simples. Mas não resolve. Pulamos e evitamos essas incongruências maiores e eles crescem cada vez mais. Ah, meus caros, não se esqueçam de Murphy. Sim. Infelizmente estamos condicionados a nos deparar continuamente com os nossos defeitos, anseios e aversões. Além, evidentemente, do medo.

Isso não é ruim. Aliás, ruim é coisa de pessimistas. Nada é ruim quando não vemos desta forma. Acreditem ou não, há uma Lei chamada "Progresso" que está inserida em tudo o que é existente e ela permite que, como diz o próprio nome, avancemos infinitamente para o elevado. Não, não somos perfeitos, mas podemos ser relativamente, se assim o quisermos. A mudança é inerente à evolução. E o mais interessante: nós a escolhemos, se quisermos. O desapego purifica e a coragem enobrece. Mas é mister dar início.

E começo dizendo que não há medo pior que o da ingratidão, essa maldita senhora que destrói toda e qualquer esperança, com o grito silencioso da indiferença. Não há nada mais democrático que a dor que está para todos, sem distinção de classe cor ou credo. Querem coisa mais abominável que o ódio? O medo do ódio. Pior? O medo da vida, o medo da morte, o medo do amor, o medo do bem.


Mas eu não paro por aqui não.

Existe um medo pior que todos.

O pior medo de todos é o pior que existe em mim e que dilacera o presente que é o meu melhor presente. Essa chaga, esse verdadeiro cancro, corrompe tudo que há de mais puro e putrefato. Aniquila o belo e o feio. Fuzila com seus milhões de olhos sempre iguais e individuais, qualquer perspectiva de progresso ou retrocesso. É a contradição das contradições, o ópio da verdade, a fantasia mais sádica dos seres humanos. Neles nos encontramos e dificilmente nos livramos.

Tenho medo dele ontem e hoje ,convivendo as 23 horas e 56 minutos de minha pré-vida até o além túmulo, colada com sua sombra. Ele me conforta, me confunde, me tortura, e continua na sua sutileza, abraçado ao meu ser, me trazendo paz e agonia, aflição e introspecção, saúde e doença, mas eu o odeio com toda força do meu amor, com a aspereza da minha benevolência, com o orgulho da minha modéstia, com o fogo do meu coração de gelo.
Eu quero matá-lo de mim. Quero, mas que tudo nessa eternidade arrancar-lhe as vísceras e comê-las ao molho da minha compaixão. Quero me livrar de suas cordas libertadoras, que aprisionam-me no mais que infinito vale das minhas ideias, emoções e criações.


Tremo ao olhá-lo, tenho convulsões de saber que isso se dá sempre,mas essa luta pacífica acaba,porque tudo que é ruim acaba pessimistas.Mas precisa começar para acabar, e o fim se faz necessário novamente, para que outras inferiores ocasiões nos proporcione um novo início. E o lapidado ciclo acorra com maior potência.

Tenho um terrível medo do meu egoísmo. Preciso destruí-lo com toda a força do altruísmo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Réquiem.

Um dia eu acordei e quando menos percebi, plantaram no mais profundo jardim da minha alma, uma semente que eu reguei com muito carinho, mas com pouca cautela. O tempo passou e a árvore cresceu, só que as condições morfoclimáticas não permitiram que ela sobrevivesse. Sim, eu tentei de todas as maneiras fazer com que ela resistisse. Quase todas. Tentei o impossível, que de tão inútil me fez sofrer. Não. Não podemos contra a natureza. Somos meros humanos. O tronco, cresceu, mas frutos ou flores nunca existiram. E nunca existirão. Eu, esperei pelo tempo, esse mesmo que destruiu minhas safras em prol do meu futuro de fenix, para arrancar folha por folha aquela plantinha. Mas deixei uma última raiz de esperança, que arranco gloriosamente e permito que essa mesma foice limpe e extermine todos os resquícios de um erro. A terra não é compativel com qualquer semente. Espero o inverno passar o solo se recuperar para que grãos mais belos e férteis, ao contrário de tais olmos incongruentes que de flores só me deram espinhos, venham perfumar e iluminar minha existência nesta primavera próxima. A vida é linda.

17 de julho de 2010.

sábado, 7 de agosto de 2010

Prelúdio.

É...
Nesses tempos de febre twitteriana, resolvi, antes tarde que nunca, fazer um blog.
Não sou lá um Fernando Pessoa, mas acho importante escrever. Não sou analfabeta. Talvez com a prática algo de menos desprezível apareça.