segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Novos Frutos

Pois é, o tempo passa.
Sim isso é obvio, mas é lindo.

Esperei por alguns longos meses e finalmente aconteceu o que acontece com o tempo.
Ele passa. E deixa para trás o que é do passado. E me mostra as boas sementes que já podem ser cultivadas em boa hora.
Já é tempo de novas frutas, novas plantas, novas raízes, mas o medo ainda insiste.

- E qual seria esse medo, meu caro Valois?
- Talvez a insegurança, a imaturidade, a incerteza, essa sua falta de chão.
-É, talvez sim, talvez não. Mas acostumei-me com a mesmice. Tudo continua como sempre, e eu continuo com o medo de encarar esse tudo, que na verdade é um grande nada. Vazio incomesurável.


Ah, sim, como eu gostaria dessas novas sementes que brotam e geram novos frutos nesse inusitado tempo, mas não posso, não quero, não quero poder, não tenho poder, não posso querer.

- E por que?
- Não sei. Eu sei que não é o momento.
- E quando será o momento?
- Talvez ele não exista. O que existe pode ser o vazio.

Alguma parte de mim não queria que a nova espécie fizesse parte da minha existência, e aquela parte insistia que eu desistisse. Mas eu ainda queria. E ainda quero.

Talvez seja isso tudo bobagens, banalidades de quem já não tem mais o que pensar, o que fazer, o que dizer, o que viver. Futilidades de alguém tão vazia como o momento que seria adequado transbordar o vácuo da minha existência de inutilidades.

-Sei lá.

Mas há um motivo. E ele transcende qualquer má vontade de viver. Esse motivo é próprio pretexto que guia o sentido da minha vida. É complexo: Se eu ignoro esse motivo, vivo sem o guia do sentido da minha vida, mas se eu o respeito, vivo sem vida, sem sentido. O que fazer? Mudar para onde? Por que?

- Já sei que não adiantam procrastinações. Agora é o tempo de plantar essas novas sementes que um dia crescerão e formarão árvores com novos frutos e esse é o sentido da minha vida. Em que sentido, Valois?
- No sentido que você sente ser o certo para sua existência e para os que você ama.
- E será mesmo que eu os amo?
- Será mesmo que eles existem?
-Não sei. Isso tudo é muito complicado. Mas eu sinto o momento chegar e abordar: é agora!
- Como pode ter certeza? O momento já te abordou em outras ocasiões e eles estava errado.
- O que está certo então, Valois?
- O tempo, minha querida. Ele sempre está certo.

Talvez eu devesse esperar o ciclo se repetir e agir apenas no próximo ano. Mas não sei. É complexo. Minha boa vontade concorda com esse momento de vazio. Momento de realizar o vazio que me preenche muito mais que a solidão, mas não sei. Sou irresponsável, Valois, mas quero. E aprendi que sobre as coisas que não são da razão deve-se fazer sempre o que é contrário a inovação. O prazer, meu caro Valois, é sempre o mesmo.

- Mas você prezara as coisas da razão e concluira que o tempo te daria prêmios que pertencem a razão.

Mas o tempo passou levando consigo algumas pessoas, conceitos, ignorâncias, recordações, pedaços da minha história que, sendo bons ou ruins, foram necessários. Sendo o vazio equivalente tanto se eu optar pelo motivo ou pelo momento, eu decido que é melhor seguir pelo desconhecido, que talvez seja inovador por ser o tempo a foice que destrói qualquer marca nostálgica de um acontecimento pretérito.

- Sim, Valois, a vida é o que há de mais belo.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Para um amigo.

Prezado amigo,

Sei que você não está passando por um bom momento, e sinto-me envergonhadíssima de minha felicidade, pois parece-me que quanto mais alegria tenho, mais tristeza você tem. Gostaria de poder te abraçar, ou mesmo te ligar- perdi seu telefone com minha desorganização básica- mas não teria toda essa coragem. Se tivesse seu endereço mandava-te uma carta bem bonita, com generosas palavras. Mas não sei direito o que dizer. Nem mesmo sei se tenho o que dizer.

O fato é que ocorreu um esforço da sua parte para que as coisas fossem diferentes, sei, e talvez até melhor que você, se me permite dizer, que tudo isso que você agrega em termos intelectuais será mantido e aperfeiçoado dentro da sua existência. Obviamente você ficou triste, chateado, como ficou das outras vezes; entendo essa tristeza pois já passei por ela, mas também entendo o seu empenho em continuar lutando pela essa conquista que ocorrerá a medida que você persistir em teus ideais.

E sobre conquistas, gostaria de agradecer a grande amizade que você me proporcionou durante esse ano que passou. Aguentou o meu mal humor, minhas rudes palavras, ásperas expressões e agressividades peculiares da minha suposta personalidade. Deu-me valiosos conselhos, preciosos consolos, simpáticas tardes com filosóficos almoços, sempre muito intelectuais, e auxílios em matérias que se tornam inúteis para mim, mas que outrora foram de grandiosa importância.

Saiba, como é de se imaginar, que nada é para sempre, de que seu momento de luto passará, como passaram os dias da nossa história. Talvez não nos veremos tão cedo, talvez nos veremos mais cedo do que supomos, mas isso já não é assim tão importante.

Também não se esqueça que você marcou a minha história assim como eu marquei a sua, e que uma parte de mim será sua e uma parte de você, minha.
Isso não é despedida, só uma demonstração de alteridade e um desejo de que você não perca a energia em sua luta, independente do que outras pessoas, que nem querem tanto o seu bem assim, digam, façam ou queiram. O importante é sempre você.

Continuarei na torcida por sua vitória que ocorrerá.
Foi um prazer te conhecer cara,


Abrações
Beatriz Oliveira.

PS:Você é um ser humano deveras fantástico.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Diálogos psicóticos.

-Mas qual seria então a explicação para esse sofrimento?
-Que sofrimento, minha cara?
-Não sei bem.

E ela meneava suas mãos aturdida em reflexões.

-Acho que é o vazio.
-E qual seria o problema do vazio, que te preenche de tristezas?
-Ele é meu maior companheiro, está sempre por aqui, e por ali e dentro de mim.
-Mas você tem a mim!
-É... Eu sei.

Talvez tudo aquilo não passasse de muita brincadeira e talvez tudo seria muito bonito.

-Valois.
-Sim?
-Por que tudo não passa de uma simples brincadeira?
-Mas não é real. É fantasia. Seu vazio talvez exista em algum lugar.
-Em que lugar?
-Não sei, tudo é muito confuso para mim. Vamos começar novamente.

E Valois girava seu chapeuzinho no dedo indicador, em um gesto muito peculiar.

-Quando foi a última vez que sentiu essa insensibilidade?
-É sofrimento.
-Sofrimento pelo vazio?
-Não, é vazio de sofrimento.
-Ausência?
-Presença da falta.
-Entendo.
-É complexo.
-Explique.

A moça pensava em sua rotina, no sentido de sua vida, e tudo ficava cada vez mais nebuloso. O que era ela?

Ela não passava de um frio pedaço de carne que queria transcender sua humanidade.
Talvez se ela se aproximasse de sua essência seu vazio diminuiria.

Mas sua essência era vazia. E seu vazio, angustioso.

O que representariam todos aqueles livros, aquelas cartas de amantes amadores, aqueles velhos álbuns de seres já inexistentes em figuras mortas, aquelas folhas sonoras, os antigos discos. Tudo era silêncio. Como os lindos campos da burguesia silenciosa, tudo era oco. Sem amor, sem ódio, sem vida.

-Salve-me, meu querido Valois!
-Não posso, minha menina. Não posso te salvar de você mesma, pois só há uma pessoa que salvaria.
- Quem?
-Aquela que habita tua alma.

E foi-se embora no mesmo piscar de olhos, pingando as últimas gotas da solidão.