sábado, 25 de agosto de 2012

Entre penas e pétalas.

Que saudade daquele tempo que não é mais necessário. Que vontade de estar perto desse doce passado de infinitas lembranças e amores. Mas que alegria de viver e de descobrir como é bom ser como aquelas aves ou como aqueles lírios. Mas que plenitude saber que se pode carregar aquilo que é verdadeiramente nosso, aquilo que conquistamos, e mais prazeroso se dar conta que carregamos parte daquilo que não nos pertence quando sabemos deixar que se vá, como os pássaros que cuidam de suas crias até a hora da partida, ou das plantas que embelezam até a hora de fenecer. Não desprezem, meus caros, esse pretérito ornado com miríades de gozos e tristezas; pelo contrário, respeitem-no como seus pais ou seus tutores, que te ensinaram a ser fortes, a ter valores e a ser do jeito que tem que ser para ser bom; e olhem com carinho para todas essas páginas de adoráveis memória, porque é justamente por elas, que se pode desabrochar para depois florir, cantar uma vida de novas alegrias e entender que mirram todas as coisas, visto que todas as coisas mirram. Elas não emurchecem como se então no presente ficassem tal como se nunca tivessem sido, mas fanam para que as novas tenham chance de vicejar, e deixam em seu solo um resquício de sua essência. O âmago divino, de abençoada fragrância. Pois tudo tem a sua devida importância. Tudo tem o seu devido valor. O passado, as pessoas, a matéria, o espírito, a vida, a morte, a ledice e o pesar. E isso deve ser respeitado, para que se mantenha o ciclo natural da existência. Para que o nostálgico imprescindível seja mais uma doce e saudosa dádiva.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Certezas da vida.

Há tempos que esse texto deveria existir, anos talvez, mas algo impediu seu nascimento, pois ele aborda temas que não podem ser ditos por se tratar do que só pode ser sentido. E com muita profundidade.

Há uma razão para a apatia à primeira vista; aquelas pessoas normais que não conhecemos e que estão ali, feito detalhes de uma paisagem comum, mas que nos incomodam feito farpas de madeira dentro da pele. Pessoas que são inocentes, à primeira vista, à vista simples, objetiva e carnal. São pessoas, como outras quaisquer, mas que perfuram nossa paciência sem precisar de palavras, gestos. O cheiro delas atrapalha nosso oxigênio. A coisa é meio assim, pessoal. A compreensão desse tipo de sentimento faz parte de uma visão geral que ainda não é exclusividade da grande maioria. Mas os fortes já entendem.

É mais do que necessário convivermos com esses seres, e para nossa informação elas contribuem muito na nossa vida, por mais inútil que isso possa parecer. Para nosso azar, ou talvez um dia sorte, quem sabe, são muitas essas criaturas e muito ainda teremos que tê-las no rol de nosso cotidiano. Passamos e passaremos muitas feitas com elas e isso é importante. Porque são como espelhos que mostram nossos piores defeitos, nossas piores tendências, piores momentos, atitudes. Os sábios de coração já aprenderam a amar esse espelho e refletir nele a beleza da vida.

Mas ainda não somos sábios.

Há uma razão para a indiferença à primeira vista, para existirem as pessoas que são como o vento. Pessoas que passam por nós constantemente sem nos darmos conta, sem que precisemos nos dar conta, sem que queiramos nos dar conta, sem que nem pensemos se precisamos, se daremos, se queremos, ou mesmo se nos importamos em dar conta. Mas o vento tem lá seus dotes. Quando estamos sem tempo nem pensamos que existe vento, que nele estão contidos os elementos fundamentais da nossa permanência no mundo. Quando precisamos, criamos movimentos para que o vento venha até nós e seja como desejamos: calor ou frio. Se há doçura em nós, sabemos apreciar as brincadeiras da brisa nas folhas, nos cabelos, nos amores, nos dias e nas noites. Mas se há melancolia, apenas vemos os furacões ou as desérticas miragens a enrijecer nossa alma de mágoa e petrificá-la de ódio. E essas pessoas passam como os ventos, levando as nuvens, os segredos; deixando os sorrisos, a próxima estação ou mesmo o vazio dos que não o apreciam. Elas passam e caminham de ambientes para ambientes. Entram em nossa vida sem pedir e sem nos consultar se tornam importantes, tal como sem nosso consentimento se vão para o infinito. E isso precisa acontecer, para o bem, sempre pelo bem. Nós, ademais, somos da mesma forma ventos que refrescam a vida de alguém.

Mas também há uma grande razão, e talvez essa seja a mais sublime de todas elas, para que exista amor à primeira vista. Amor que é puro, inocente, eterno, daquele que já nasceu dentro de nós. Conosco da plenitude para a transcendência.

E aqui está a grande dificuldade. Sabemos muito bem narrar à maldade. Em nossa literatura temos vastíssimas e preciosíssimas teses, teorias, postulações, obras, monumentos, romances, tratados e escritos que descrevem com infinita precisão a maldade, a crueldade e todos os filhos da sordidez. Talvez por sermos humanos, e humanos não são perfeitos, e a perfeição tem atributos, e um dos atributos é o amor, não sabemos ainda definir o elevado, entender virtudes, amar. Porque o amor exige muito na sua absoluta humildade. O amor exige muito de reles criaturas humanas que mal se despiram do seu envoltório de orgulho e egoísmo. Criaturas que ainda se preocupam com a maldade, que ainda estão com ela.

Chegamos quase próximo de entender algumas gramas da vasta magnificência desse sentimento quando olhamos nosso animal de estimação e sentimos a alegria e os eflúvios positivos dele a nos saldar como se não nos víssemos há séculos, e ficamos prontos a perdoar e nem sequer ousar lembrar de qualquer ofensa que nos tenha feito. Nós os amamos sem saber, e desse modo não esperamos nada em troca. Sabemos que eles continuarão fiéis sem nem ao menos pensar nisso e sabemos principalmente que só nos deixarão boas lembranças. A segunda maneira, mais intensa, é quando temos um filho. E o que sentiremos por ele será de uma grandeza incomensurável. Mas esse amor ainda não me é digno conhecer.

Todavia, compreendendo ou não, e merecendo ou não, existe uma razão muito profunda para existirem pessoas que amamos sem qualquer cerimônia. Pessoas que não precisam de nada, absolutamente nenhum requisito para serem muito queridas por nós, para fazerem uma diferença brutal na nossa vida, que as vezes nem mesmo tenhamos convivido muito, compartilhado qualquer coisa, mas que sabemos que também nos amam. São dessas pessoas que nosso espírito se sente revigorado, são elas que dão cor às desbotadas esperanças que temos de continuar sorrindo, de ter alegria, de ter fé, de procriar amor, de ter força para resolver problemas, de lutar contra o mal e de sermos melhores. São essas pessoas que nos fazem sentir que nunca e jamais estaremos sozinhos, pois esses laços que temos, essas cordas infinitas de relações imutáveis, continuarão nos sustentando em redes mentais que propiciarão auxílio independentemente de como e de onde estivermos.

Dessas pessoas, eu sinto uma saudade gostosa, e pensar nelas, me faz muito bem; amá-las faz parte do sentido da minha vida. Não preciso de nada além de um abraço, um olhar, um sorriso, ou uma tarde de ricos conselhos, e se dessas coisas nenhuma for possível, ainda assim me contentarei, pois sei que o amor na sua grandeza exige de nós simplicidade, virtude essa que a nossa ganância em ter tudo de uma vez bloqueia. E sei também que ele existe além do tempo e do espaço, porque o tempo nada mais é que uma sucessão de eventos efêmeros; e o espaço não é mais poderoso do que a força do pensamento, nem do que a intensidade do verdadeiro sentimento.




domingo, 5 de fevereiro de 2012

Vida vida, linda vida.

Valois, mais uma vez preciso muito de você.
Eu já não sei o que fazer com a miséria do meu silêncio que grita desespero. Falta de esperança em conseguir mudar tudo isso de ruim.

- Conte-me, minha cara, escutar-te-ei como sempre.
- É algo que nem sei bem como explicar.
- Comece pelo começo, ou por aquilo que se inicia agora em vossa mente.
- Mais uma vez eu errei.
- Natural de todos vós, seres humanos.
- Mas eu estou contra a maré. Mais uma criação que nasce com toda a formação da maldade. Sim, foi a primeira do ano infectada de pensamentos ruins.
- Sim, eu entendo.
- Mas não deveria ser assim, deveria?
- Minha querida, essa nova não nasceu como as dos anos anteriores. Ela já está madura, florida, veloz em seu processo de crescimento. Isso tu não podes negar. Atenha-se aos ganhos, pois de infortúnios adornamos a tristeza. Aliás, das coisas notáveis que tu perdeste eis o senso crítico.
- Sim, esse eu notei que me foi embora.
- Perdeis o senso crítico que vos permitia olhar para as diversas criações e distinguir o joio do trigo. Tu não consegues mais aprecia-las por não quereres reconhecer qual é bela, qual é admirável, das incontestáveis excrescências. E isso, anjo meu, é a vossa pior perda.
- Mas e minhas jóias? E minhas expectativas?
- Não. Tu nunca tiveste jóias para perderes. Elas jamais foram tuas. Tu não conquistaste jóias, tu não floriste teus jardins, tu não semeaste tuas planícies, tu não lutaste para bem algum, espiritual ou material. Tuas expectativas foram apenas ilusões. Teus desejos não dependiam apenas da vossa pessoa para se concretizarem, e por isso não eram importantes.
- Eu sei. Mas por que a angustia? Por que essa náusea todas as vezes que penso nessas jóias, se elas nem ao menos são minhas, se elas nem ao menos se importam comigo? Por que essa dor e esse vazio mesmo com a ordem material e espiritual? Por que não ser simples? Simples como a realidade, como a beleza, como uma criança? Por quê?
- Tu tens a resposta, anjo meu. Tu elaboraste teorias precisas sobre o sofrimento que naturalmente também são aplicáveis a ti. Deveis reconhecer que passará. Acabarão todas essas mazelas, e o bem triunfará. Mas é preciso lutar. Seu esforço se faz necessário. Tens já amadurecida a consciência de que não permaneceis ai, humana, de férias, em busca de felicidade, pois a felicidade se compõe de satisfações, e estais em um mundo de humanos com necessidades matérias.
- E daí?
- E ai que és espírito; e a felicidade de um espírito está além de toda essa calda bruta de mediocridade. Não podeis ainda compreender o que é isso. Falta-lhe conhecimento, falta-lhe depuramento moral, falta-lhe não precisar mais de humanidade, matéria, tua realidade sensorial. E como conseguir, tu aprendeste. Sim, é necessário ainda ser humana, o trabalho, as provações as expiações, as alegrias simples, as satisfações materiais para que se atinja o cume, e o que está além é o primeiro grão de entendimento da magnitude. Não estais sofrendo, querida. Lembra-te que sempre estamos contigo, que o auxílio providencial sempre recorrerá às tuas necessidades. E tranqüiliza-te a alma.
- Compreendo.
-Faz a tua parte, façais com amor, façais da melhor maneira possível e com destreza de vossas ferramentas e não tornes a perder os teus maiores valores.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Valois que me entenda.

Pois é, a vida também tem suas durezas. Nossa existência tem a sua parcela de dor. Sim, ainda somos imperfeitos.

Mas ainda escolhemos muita coisa. Escolhemos nosso tipo de vida, nada é imposto, e cada parcela de sofrimento carrega em si grandes doses de ensinamento, aprendizado, funcionando como um espelho das nossas decisões. Das nossas atitudes.

E ainda tem o vazio. Ele toma conta das pessoas felizes e das infelizes, das bem sucedidas e dos desgraçados, das bem intencionadas e dos patifes, dos ricos e dos pobres; claro que em maior ou menos grau, dependendo de cada situação, mas atinge a todos como o Sol, como a generosidade providencial. Justos e injustos em algum momento cairão nas redes irresistíveis desse vácuo angustioso.

Por que viver sempre sozinho quando estamos rodeados de seres humanos que cada dia mais pipocam em todos os lugares? Para que nascer crescer, se desenvolver – que implica todas as exigências de conquista profissional da vida contemporânea – se não pensarmos com quem compartilharemos tudo isso? Se não pensarmos em como a partir de nossas conquistas podemos fazer outras pessoas felizes?

É ai que percebemos que toda conquista de ordem material satisfaz a todos os desejos materiais. E somente a eles. Mas das necessidades do espírito apenas conquistas espirituais saciam a sede da nossa alma. Evidente que não se pode pensar em desenvolvimento espiritual antes do material, no sentido primitivo e de forma saudável, mas a conseqüência direta do egoísmo, para os iniciados é naturalmente o nada. Porque a solidão por ela mesma não tem sentido algum.

Agora é compreensível essa necessidade, humana ou divina, de amar.