domingo, 12 de setembro de 2010

Lindos olhos de oceano.

Essa vida aqui, meus camaradas, passa e acaba. Isso é profundamente simples.

Acordei, uns dias atrás, me sentindo mais velha. Talvez é o tempo que agora passa mais rápido, meu olhar que já não é mais o mesmo, o brilho do meu sorriso, que não tem a intensidade de outrora, quem sabe os fios dos meus cabelos que não cintilam como antigamente...

Mas o fato é que tudo passa. E vai passando sempre. O que temos de nosso? O que carregamos? Ganhamos? Perdemos? Conquistamos? Vivemos? Amamos? Sofremos? O que ficou?

-Calma.

Vamos organizar as ideias.

Temos a nossa consciência e nela carregamos o peso das nossas atitudes, ganhamos a oportunidade de aprender com os obstáculos, perdemos tudo o que nos prende aos grilhões da mediocridade e estagnação. Vivemos por algum motivo que cabe a cada um descobrir; amamos para compartilhar nosso egoísmo com alguém que também sente essa necessidade, e com isso podemos fazer boas ações; sofremos para não repitirmos um erro, não aprendemos e então sofremos novamente.

-O que resta?

Muita coisa.

Restam aqueles que não aprenderam ainda que tudo passa. E são numerosos. E se prendem a qualquer coisa. Pobres escravos de um instante que já passou, ou que nunca passará, infelizes que continuam no martírio eterno, habitantes de um inferno contruído com suas proprias ideias.

-E o que eles fazem?

Eles choram, culpam deus e o mundo por sua desgraça."Por que perdemos o que amamos?" Dizem eles. " Por que não morremos de um vez?" Vociferam.

-Coitados.

Ninguém perde o que ama, a não ser que perca o amor que sinta, ou seja, só perdemos um amor quando deixamos de amar. Desistimos de amor. Somos fracos. Existem pessoas fortes, assim como existem os que aguentam e os que não insistem, os que perdoam e os que carregam mágoas, o cara que passa na usp em engenharia em primeiro lugar e os que não conseguem nem mesmo passar da primeira fase, enfim, os vencedores e os fracassados.

Não morremos de um vez porque não é uma decisão nossa, mas do tempo. O prazo de validade, quando expira - algumas vezes demorado, nos vovozinhos, outras prestíssimo, como nos podres fetos de moças que abortam - não respeita nossa vontade.

-E o que fazer?

E ainda precisa? Ah,sim. Devemos fazer o essencial se quisermos. Quando agimos dessa forma, aproveitamos da melhor maneira aquilo que está dentro das nossas possibilidades. É o Horaciano " Carpe Diem". Mas dá até medo falar dele. Hoje temos tantas distorções no belo, que este se tornou banalizadamente frívolo.

Mas vamos parar com esse solilóquio sobre coisas óbvias. Estou tremendamente cansada.

-Não falamos nem mesmo dos olhos de oceano...

Ah, mas que saudade daqueles glóbulos bastante penetrantes, singelos e adoráveis.

Eram belos olhos que eu conquistei com os meus, carreguei no fundo do coração, amei como a mim mesma e perdi para a natureza maior.

Perdi um pedaço de mim. Mas ganhei uma parte do mundo.

Absurdos.

O Concílio de Constantinopla – 553 D.C.

Texto de Vivaldo de Araujo, professor e procurador de
Justiça do Estado de Goiás.

Até meados do século VI, todo o Cristianismo aceitava a Reencarnação que a cultura religiosa oriental já proclamava, milênios antes da era cristã, como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para rever seus erros e recomeçar o trabalho de sua regeneração, em nova existência.

Aconteceu, porém, que o segundo Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.

É que Teodora, esposa do famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa, temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através da criminosa intervenção do general Belisário, para quem os desejos de Teodora eram lei.

E assim, o Concílio realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias ( Mateus 11:14 e Malaquias 4:5 ).

Agindo dessa maneira, como se fosse soberana em suas decisões, a assembléia dos bispos, reunidos no Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que reencarnação não existe, tal como aconteceu na reunião dos vaga-lumes, conforme narração do ilustre filósofo e pensador cristão, Huberto Rohden, em seu livro " Alegorias ", segundo a qual, os pirilampos aclamaram a seguinte sentença, ditada por seu Chefe D. Sapiêncio, em suntuoso trono dentro da mata, na calada da noite: " Não há nada mais luminoso que nossos faróis, por isso não passa de mentira essa história da existência do Sol, inventada pelos que pretendem diminuir o nosso valor fosforescente ".

E os vaga-lumes dizendo amém, amém, ao supremo chefe, continuaram a vagar nas trevas, com suas luzinhas mortiças e talvez pensando - " se havia a tal coisa chamada Sol, deve agora ter morrido ". É o que deve ter acontecido com Teodora: ao invés de fazer sua reforma íntima e praticar o bem para merecer um melhor destino no futuro, preferiu continuar na ilusão de se poder fugir da verdade, só porque esta fora contestada pelos deuses do Olimpo, reunidos em majestoso conclave.

Texto de Vivaldo de Araujo, professor e procurador de
Justiça do Estado de Goiás.

E tem gente que ainda tem capacidade de dizer que no Juizo Final o nosso corpo desperta.

Salve Salve os japoneses de Hiroshima, os judeus dos campos de concentração e as infelizes vítimas de furacões e derivados.

sábado, 4 de setembro de 2010

Semeadora de sorrisos.

Ah, e aquela garota que cresceu e amou e sonhou: continuava igual. Certamente mais leve, tranquila, equilibrada, madura, humana. Mas a mesma.

Delicadeza de menina, entregava sorrisos como flores primaveris para cada mancebo que pelo seu coração passava. Pena que apenas mancebos indiferentes e desprovidos de bom gosto enveredavam nos confins do seu interior. Desprezavam-na como se despreza uma lesma, uma folha qualquer que cai da árvore e de nada serve, de nada contribui. Importante ela se sentia, como se sentem as pessoas que pegam o busão lotado, o metrô entupido e ainda acham que um dia o mundo será melhor.

Lamentável.

Um dia ela resolveu mudar, como fazem todos os tolos que se cansam de serem infelizes, explorados, inúteis, fracos e impotentes. Doravante resolveu guardar seus sorrisos para os seres perspicazes. Então ela passou a olhar feio, ser horrível, vestir-se mal, usando apenas do respeito e polidez para com os outros.
A racionalidade é lucrativa. Quando as emoções se distanciam, a inteligencia e a concentração se fazem mais fortes e auxiliam a realização de um bom trabalho.

Coitada...

Ela esqueceu que somos seres humanos, e não escolhemos quem colhe nosso coração. No máximo optamos por entregá-lo aos poucos que vivem procurando algum. Pelo menos para isso temos autonomia. Pena que não sabemos o que fazer com ela.

A risonha garota voltou a sorrir, mas de uma maneira diferente.
Leve, tranquila, equilibrada, madura, agora ela sorria para os apreciadores de um bom sorriso.

Hoje ela não sente mais a necessidade de receber sorrisos de recompensa, porque o desejo de algo que não foi conquistado, é a colheita do fruto verde: são sorrisos falsos.

Como é belo o sorriso ingênuo. Sem compromisso, simples, iluminador.