Ah, e aquela garota que cresceu e amou e sonhou: continuava igual. Certamente mais leve, tranquila, equilibrada, madura, humana. Mas a mesma.
Delicadeza de menina, entregava sorrisos como flores primaveris para cada mancebo que pelo seu coração passava. Pena que apenas mancebos indiferentes e desprovidos de bom gosto enveredavam nos confins do seu interior. Desprezavam-na como se despreza uma lesma, uma folha qualquer que cai da árvore e de nada serve, de nada contribui. Importante ela se sentia, como se sentem as pessoas que pegam o busão lotado, o metrô entupido e ainda acham que um dia o mundo será melhor.
Lamentável.
Um dia ela resolveu mudar, como fazem todos os tolos que se cansam de serem infelizes, explorados, inúteis, fracos e impotentes. Doravante resolveu guardar seus sorrisos para os seres perspicazes. Então ela passou a olhar feio, ser horrível, vestir-se mal, usando apenas do respeito e polidez para com os outros.
A racionalidade é lucrativa. Quando as emoções se distanciam, a inteligencia e a concentração se fazem mais fortes e auxiliam a realização de um bom trabalho.
Coitada...
Ela esqueceu que somos seres humanos, e não escolhemos quem colhe nosso coração. No máximo optamos por entregá-lo aos poucos que vivem procurando algum. Pelo menos para isso temos autonomia. Pena que não sabemos o que fazer com ela.
A risonha garota voltou a sorrir, mas de uma maneira diferente.
Leve, tranquila, equilibrada, madura, agora ela sorria para os apreciadores de um bom sorriso.
Hoje ela não sente mais a necessidade de receber sorrisos de recompensa, porque o desejo de algo que não foi conquistado, é a colheita do fruto verde: são sorrisos falsos.
Como é belo o sorriso ingênuo. Sem compromisso, simples, iluminador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário