quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O grande presente das ladras

Impressionante como o tempo passa e muda
Sim, concordo que esse tipo de postura é a mais clichê dos últimos séculos, mas vamos lá.
Eu resolvi aparecer depois de tanto tempo ruminando novas ideias, resolvida a trazer material bruto para minhas novas postagens, e veja que surpresa: hoje tenho tanta coisa para falar que nem ao menos sei por onde começar. Avante, pois, que a noite é curta para as grandes almas.

Hoje consigo olhar para o passado e ver que dezoito anos boiaram pelas catacumbas da minha memória e serviram para alguma coisa. Sim, meus caros, serviram. Todos esses anos que hoje me parece uma boa piada, não conseguem nem ao menos tocar os pés da experiência que me abraçou esse ano. Vamos a exemplos mais concretos.

Na infância, pensamos sempre que nós somos o centro do universo, e ai daquele que contestar! Terá que acertar as contas com o nosso choro desesperador. Somos inocentes, impotentes e válidos só para a satisfação contemplativa de pais solitários.

Quando a puberdade emerge, choramos mais ainda, só que temos tanto menos pessoas que se preocupam com esse choro como novos temas para lamentações. Descobrimos que o centro não é de nenhuma maneira nós mesmos, mas uma grande alegria: a descoberta que possuímos uma opinião. É aí que temos o que a hipócrita Senhora Democracia mais adora: as nossas convulsivas regurgitações de singularidade. Queremos falar, nos expressar, nos defender, criticar. Vestimos completamente a roupa do diálogo. Ah, essa Juventude, que frescor.

Só que ela passa, e como vocês bem podem perceber, está começando a passar de mim. Já nos encontramos em outros carnavais e agora ela já vem se despedir da minha pessoa. O carnaval “meio que tipo assim” já passou. E ai a idade madura bate na porta querendo entrar. Tentamos todas as artimanhas para afastá-la, talvez nem todos se deem a esse trabalho. Alguns aceitam com o máximo de naturalidade, mas uma hora, cedo ou tarde, ela vem. Talvez já existam aqueles que nessa vida não chegaram a conhecê-la, mas não se iludam, pois esses últimos são aqueles que certamente já a cumprimentaram diversas vezes, em outras ocasiões, por essa eternidade.

Quando essa idade adulta vem se aproximando, sentimos sua presença com a carga de responsabilidade que se potencializa em uma velocidade absurda em relação àquele ritmo de mudanças da infância. Mas é natural do progresso. Então temos um acontecimento inovador: nossa opinião já completa sua gestação e está pronta para ser lançada, mas outro problema nasce primeiro, o problema é que descobrimos que aquilo que pensamos, isto é, nossa opinião, não é importante para ninguém. E quando compreendemos isso nos tornamos verdadeiros adultos.

Mas ser adulto e ter responsabilidade também são situações divertidas e produtivas, se assim soubermos conduzir a marcha. Marcha para o que vem depois.

Ser adulto também significa conseguir olhar para o passado e entender as relações, as intersecções, as interdependências, as nuanças, os detalhes, as causas e efeitos, as etapas e etc. de tudo aquilo que fomos, somos e ainda podemos ser, assim como nos faz compreender nossos relacionamentos humanos.

E eu comecei a ter esse olhar. Já foi o tempo de pensar em tudo o que supostamente sofri e chorar, culpando alguém que hipoteticamente possa ter me magoado, pois o que sofri? Quem me magoou? O que aconteceu que eu só saí perdendo? E o que aconteceu de aparentemente ruim que não fosse fruto de um erro inicialmente meu? E não digo isso pela parca experiência, pois me atrevo a dizer que mesmo nos últimos dias, lá pelos noventa e cassetadas eu diria a mesma coisa, talvez acrescentasse mais alegria e mais amor, quem sabe. Mas a questão é que digo isso porque a Dona Experiência de Vida já me convidou para tomar um chá de boa prosa, sobre os assuntos do tempo e acredito que quanto mais cedo eu acertar as contas com essa existência, mais rápido eu vou me livrar de seus convites de sofrimentos.

Mas falando em sofrimento, não sei se já abordei a minha segunda teoria por aqui, ela vem a calhar. Ela vem sempre a calhar. Segundo eu mesma, mentira. Segundo eu e meus pensamentos. Mentira novamente. Segundo eu, meus pensamentos e todos aqueles que já pensaram nisso , além dos seus respectivos pensamentos, uma ser humano não faz outro ser humano sofrer. O que faz o outro ser humano sofrer é o seu próprio defeito que foi exposto indecentemente com a atitude do primeiro ser humano em questão. Ficou complicado. Vamos explicar e aplicar.

Uma ofensa lançada por um homem x só faz um homem y sofrer se essa ofensa atingir e deixar peladinho um defeito, ou em melhores termos, uma imperfeição moral, do homem y. Agora apliquemos essa teoria em um exemplo aviltante.

Suponhamos que um homem traia sua mulher, talvez seja difícil imaginar, mas vamos nos esforçar um pouquinho. Essa senhora certamente ficará abalada e magoada, pois em um relacionamento sério não queremos que isso aconteça. Mas o que, segundo minha teoria, realmente fará essa criatura sofrer é a sua relutância em perdoar, seja pelo ciúme seja pelo orgulho. Não que o cara não tenha nada com isso, e nem mesmo que seja fácil aplicar essa teoria na prática. Mas é a realidade. É isso e nada mais.

Falar da minha teoria é importante porque foi pensada e exemplificada no momento em que essa ponte entre a juventude e maturidade ocorreu, ou seja, agora. Esse ano. Nesse momento. Ela está sendo estudada por mim em muitas situações e é o que me possibilita entender por que muita coisa mudou, por que muita coisa muda, por que e como acontece.

A primeira teoria, não muito estudada, mas de não menos importância diz respeito à amizade. É bem óbvia, como qualquer boa teoria, modéstia a parte.

Lá vai: As pessoas que possuem desestruturas familiares, tendem a supervalorizar o conceito de amizade. Não ficou claro? Eu explico. Zica na família gera seres humanos carentes de afeto. Sim, é óbvio, mas entender isso de uma forma pragmática não é tão babaca assim.

Por que a desestrutura familiar deixa as pessoas meio cegas e fica fácil ser vítima do destino quando se está condenado desde os meados da vida. É fácil ser ignorante porque isso é mais uma desculpa para realizar cretinice. É fácil ser pobre para um pretexto na defesa da esmola como uma necessidade, também é fácil ser bom e virtuoso quando se tem muitos recursos, assim como é fácil julgar algum erro quando não se está na pele do culpado. Certamente existem lá as exceções, mas são apenas exceções.

Só que tem um problema. Eu não tenho uma família desestruturada para saber o que é supervalorizar amigos, por isso faço parte dos que julgam sem estar dentro do subconsciente do réu. Desculpem-me. Nem mesmo a mais imparcial opinião é realmente honesta, pois ela não consegue se infiltrar no espírito de todas as opiniões diversas. Ela é parcial por ser completamente honesta.

Quis comentar da amizade por que tal como o sofrimento foi outro tema recorrente nas minhas reflexões. E como um tapa na cara acordei do torpor de aparências de todas aquelas almas que conheci e convivi esse ano – e olha que foram muitas – para colher delicadamente com a ajuda do tempo, da paciência e da necessidade, aqueles que me são fiéis e que me amam com toda a sinceridade que conseguem. Isso é engraçado.


É engraçado como nos enganamos tolamente com o que vemos. Tanto a física quanto a espiritual. Mas isso não me impressiona. Sim, é bom ter amigos. Sim temos amigos. Sim, eles são importantes. Sim, amamo-los e eles também nos amam.

Só que ainda assim eles têm o espaço deles e o caminho pautado pelas escolhas que eles tiveram. Fazemos parte de trechos fragmentados dessas trilhas, pois às vezes elas se cruzam com as nossas, mas são momentos. Belos e prazerosos que só devem deixar o aprendizado. Depois todos se separam para tornarem a se juntar. E se separar, e seguir. E progredir.

E entre o que vai e o que fica ainda tenho eu outros assuntos para comentar.

Vejamos. Falamos de mudanças, da vida e de suas etapas, experiências, teorias e ah, claro. Não falamos de seus sentidos nem mesmo de seus significados. Talvez esse ponto seja o mais relativo de todos. Talvez. Mas vamos falar do que me toca.

O sentido.

Agora é o amor. Eu espero realmente que sempre seja isso. O amor está estre as coisas que eu não quero que mude ou se perca nesse emaranhado de transformações que a existência convida. Espero profundamente que o sentido da minha vida se resuma nisso. Espero poder viver e poder morrer para amar, semear, cultivar colher e distribuir esse sentimento para o maior número de pessoas que eu conseguir. Como? Simples. Tudo começa desde as relações com aqueles que estão bem próximos, nossos familiares, passando pelo amor àqueles que imploram por ele em asilos, orfanatos, até aqueles desconhecidos que passam por nossa vida em segundos, durando apenas o tempo do nosso olhar de eternidade. O infinito de um olhar nosso em um desconhecido. Quase uma arte.

E o significado? Bom, pra mim a vida serve apenas como uma espécie de estágio para trabalharmos nossas imperfeições intelectuais e morais. Estágio esse que adianta nossa caminhada pela eternidade, se não formos ociosos.

Precisamos ser cada vez melhores do que já fomos e do que somos para que um dia tenhamos maiores e melhores condições de ajudar aqueles que ainda não estão ao nosso lado. Aqueles que ainda pensam que sofrem. Aqueles que realmente sofrem por pensar que o que passam é um grande sofrimento. Ser inteligente, conquistar conhecimentos para adquirir sabedoria, é importante para que saibamos dessa forma elevar nosso espírito e depurá-lo da inveja, do ciúme, da prepotência da arrogância, mas principalmente do orgulho e do egoísmo. E para que conquistar e articular inteligência e burilamento espiritual? Para auxiliar outras pessoas a também obterem. E para que, minha vida, para que? Porque o que poderia nos tornar mais felizes do que isso de distribuir alegria? Minha pouca experiência de vida não me permite responder.


Caramba. A noite escorreu tão suavemente e as horas se foram tão vagarosa e silenciosamente que eu nem ao menos falei das ladras e o seu esplendoroso presente, nem das outras milhares de descobertas. Mas não caberiam todas.


As ladras, ao todo três, foram mulheres que jamais me conheceram, e talvez jamais cheguem a me conhecer, mas que tiveram uma importância decisiva em minha vida. Ambas são, pelo menos em aparência, belas. Quase como princesas. Talvez fadas. Foram mulheres mais velhas, mais maduras, mais decididas, quem sabe mais astutas, ou quem sabe mais sortudas.

O fato é que elas roubaram de mim algo que eu nunca tive. Três preciosidades que eu jamais terei. Três pedras que eu deixei cair das minhas próprias mãos por uma gota de displicência e muitas colheres de inocência. Ou seria mediocridade? Nunca mais saberei.

A primeira me roubou o diamante que me impulsionou para a vida. O diamante que deu sentido para minhas ações, para o meu cotidiano, para o significado dos meus incansáveis movimentos diários em teclados diferentes. Todos os “sofrimentos” consequentes da escolha dessa atividade que eu quis realizar foram indulgentemente compreendidos na extensão da magnificência desse diamante.

A segunda foi mais contundente. A menos bela, porém a mais cruel. Roubou de mim o rubi que eu sonhei guardar. Desejei que fosse somente meu. Loucuras e asnices realizei para ter a pedra em minhas mãos, mas elas foram tão toscas quanto grande foi a dor de ver meus defeitos atingidos, todos ali, nus. E lutar por essa pedra adiantou tanto quanto abraçar o vento. Doeu-me tanto quanto as mais duras decepções que o orgulho e a vaidade não podem suportar. Sacramentou-se em meu peito a maior mágoa de toda minha vida.

E finalmente essa terceira me rouba a minha ametista luminosa. Foi como se eu já esperasse. Foi como se estivesse escrito nas estrelas que mais uma ladra me roubaria mais uma pedra que eu não cuidaria com carinho suficiente.

Só que dessa vez foi diferente. Não sofri com a perda dessa joia, porque sem querer essas ladras deram-me o maior e o melhor presente que eu podia imaginar. Estava guardado embrulhado só me esperando.

E esse presente foi o que me permitiu escrever esse texto, pois graças a essas ladras eu entendi porque não preciso de pedras preciosas para ser feliz, ou melhor, não são essas pedras preciosas que definem sentido da minha vida ou o que eu considero essencial para a minha felicidade, mas o valor que eu acredito que elas tenham. E essas mulheres me mostraram que essas pedras não merecem a minha atenção. Elas já não servem mais para mim.Foram importantes, mas agora são apenas pedras. Pedras que hoje enterram o cadáver das fantasias de uma juventude. E jaz sobre ao túmulo de um tempo curioso, aquele da nossa infância emocional.

Gostaria agora de colher as melhores flores do meu jardim de virtudes e deixá-las perfumarem nessa lápide. Foi o sepulcro das lembranças nostálgicas de um fragmento inserido em uma finalizada etapa existencial. Que já está enterrada.

Tudo dentro desse pequeno caixão me fez muito feliz, momentos de intenso e concetrado prazer e me tornou mais humana. Que sigam em paz nos caminhos para o além.

Ademais, e dessa vez com um sonolento adeus de boa noite, quero agradecer imensamente a essas ladras que me ajudaram a crescer e a continuar crescendo. Elas que jamais entenderão o que se passou em mim. Que a paz também esteja dentro de todos os seus corações, embalando os melhores sentimentos com as melhores vibrações.

Durmam todos com os anjos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sucateável.

Faz tanto tempo que por aqui não passo que não tenho nem mais o que falar.

Sabe que quando eu fico muito tempo sem escrever a coisa enferruja, mas se eu escrevo sempre acabam-se os assuntos, acabam-se as ideias.

E vamos ver o que temos, depois de tantos dias esquecidos.

Percebo que muitas lembranças do passado já ficaram por lá, murcharam e caíram feito folhas de outono. Tanto as lembranças, quanto as ideias, os sentimentos, as concepções, algumas pessoas, e algumas atitudes que de tão endurecidas pelo tempo já não servem mais.

É engraçado pensar na vida como um emaranhado de responsabilidades que enlaçam nossos problemas e nossos prazeres, sendo tudo escolha nossa e unicamente para nosso destino. É curioso ver o todo quando as pequenas partes que o compõe cada dia ficam mais nítidas e evidentes. É extraordinário como a pequenez de nossas medíocres paixões se torna infinitamente vulgar, perto do oceano de virtudes que podemos alcançar com o esforço do nosso burilamento interior. É, enfim, soberanamente grandioso quando a matéria vai se tornando menos importante que o espírito. É engraçado crescer.

Mas falemos ainda sim do que fica. Fica o amor. Fica o trabalho e a vontade. Fica a mudança.Sempre.

Tudo aquilo que não é mais compatível com o nosso grau de evolução fica descartado e reciclamos.Não precisamos ser crianças para sermos simples e desprovidos da malícia das más inclinações. Não precisamos ter pós doutorado em nada para percebemos que na vida podemos e devemos fazer a nossa parte que é simples. Não é preciso tanto conhecimento ou tanta experiência para o respeito, para o bom senso. Não é preciso ser rico para fazer a caridade, não é preciso ter ou ser o que não somos para ser aquilo que somos e viver com o que temos. Não é preciso dar o que não se tem para quem não sabe como receber, mas é bom fazermos o que podemos para aqueles que precisam.

Precisamos apenas de menos necessidades.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mal Humor.

Tem dia que a gente acorda com vontade de não ter nascido, e hoje por exemplo, é um desses.

Não sei se é só comigo, talvez não seja mesmo, talvez com certeza, mas o fato é que eu odeio quando a vida fica na mesmice e nos dá oportunidade de criarmos problemas e defeitos que ela não tem. Começamos a lamentar de coisas pequenas, transformamos pequenas lagoas em tsunames, e perdemos a capacidade de agradecer pela saúde, inteligência, nossa comida, além da sorte de ter sido o espermatozóide campeão.

O problema é pessoal. A vida é chata porque deixamos ela assim. Os defeitos existem como ferramentas para nos melhorarmos, e sábios são aqueles que sabem disso.

Eu teria mais um motivo para me irritar. Pela enésima vez não salvo um bom texto que fiz para essa postagem, mas pela primeira vez não sinto vontade de reescrevê-lo com a mesma ideias e palavras diferentes.


Só um coisa que fica: estamos no lugar certo, com as pessoas certas, no momento certo, com a cultura adequada às nossas necessidades, e com os recursos certos. Cabe a nós realizarmos o melhor trabalho com os instrumentos que estão disponíveis, articulando Vontade e Saber. Podemos sim ser muito felizes.

domingo, 15 de maio de 2011

Feito Luva.

Blogueando por ai, eu encontrei um texto interessante sobre o nossos problemas interiores com relacionamentos e creio eu que ele se aplica em diversas situações com diversas pessoas. E junto do texto segue uma resposta de email para uma mulher infeliz.

"Achamos que nosso problema é o namorado que foi embora, a mulher que traiu, o parceiro indeciso, a falta de sexo, a comunicação confusa, a ausência de diversão, grana ou tesão. Mas não é. Nosso problema é a insatisfação gerada por colocarmos nossa felicidade, nossa alegria, nossa energia, nossa respiração, nossa vida em cima de bases instáveis como um namorado, uma mulher, um apartamento, um emprego, uma conta bancária, uma identidade, um pensamento, uma religião…

Nós sofremos porque vivemos sob a ilusão de que alguns caminhos são mais seguros do que outros, que uma identidade é melhor que outra, que a estabilidade pode ser encontrada em alguns pontos e não em outros, que seremos felizes com algumas pessoas e não com outras. Sem perceber, passamos a vida inteira buscando tais posições, identidades, locais e pessoas. O fim da história nós já sabemos e teimamos em ignorar: todos morrem antes de conseguir encontrar o Santo Graal.

Todos os seres buscam prazer e felicidade e se esforçam para evitar sofrimento e dor. Qualquer um deseja a habilidade de trazer felicidade a todos ao redor. Estamos todos no mesmo time. Não há inimigos em lugar algum. Pode não parecer, mas todos querem a sua felicidade, todos querem fazer bem para você, mesmo quando o fazem sofrer, quando humilham, batem, estupram, ignoram, xingam você. Eles apenas não sabem como amar. Conseguem amar outros, mas com você não descobriram como fazer. Sim, é mais fácil considerá-los como inimigos. Mas eles são amigos de longa data cujas histórias residem no futuro."


“Oi, Nome-da-pessoa-confusa,

Situação linda essa, não? Olha, vou ser sincero, mas talvez não seja a resposta que você esteja esperando.

Pode ser que você trepe com ele insanamente, se libere e melhore sua relação com seu marido, descobrindo modos de ter prazer. Ou pode ser que você e se envolva e construa uma nova relação, dando fim ao seu casamento.

Ir ou ficar, ter outro homem ou não, ambos geram aflições. A saída não é ir ou ficar mas superar as aflições (ansiedade, carência, medo, raiva, inveja, orgulho etc). Como a gente não entende isso, melhor ir e ficar para se foder de todo jeito e então sacar que o caminho é outro.

Se você não se relacionar com outros homens, vai ficar sempre com algo intocado dentro de você e algo não vivido esperando lá fora. Mesmo se esquecer esse cara, surgirão outros. O processo será o mesmo. Same old song.

Se você der pra ele, vai deixar coisas que não quer deixar, vai fazer esforço em uma direção e depois vai se arrepender – assim como se arrependerá se não viver a paixão.

Se tentar ir por disciplina e repressão, vai se segurar o resto da vida, com um certo amargor. Por outro lado, se você se soltar totalmente, vai fazer outros sofrer e gerar constante tensão interna.


Sem as aflições, tanto faz com quem esteja. Solteira, casada, divorciada, com um, com dois, com três, sem ninguém, só com amigas, sozinha, não importa. Sem as aflições, não há um caminho melhor que o outro. Você será feliz e fará outros felizes em qualquer condição.

Enfim, o que eu desejo é que você seja feliz e possa ter a habilidade de fazer os outros felizes, seja seu marido, amante, ex-marido, ex-mulher, filho, filha, prima, primo, ficante, casinho, amigo, chefe, prostituta, avó, uma desconhecida ou o mendigo que você ignorou hoje pela manhã.

Um abraço,

Nome-da-pessoa-que-se-acha-o-conselheiro-amoroso-guru-dos-relacionamentos”

Fica a dica.

domingo, 8 de maio de 2011

Anedotas de uma infância.

Eu, durante minha infância, morei no Riachão- município de Serra Dourada (BA) – mas a partir de um determinado período passei a morar na cidade de Santana com duas de minhas irmãs e meu primo Arisvaldo, em virtude dos meus estudos, visto que o Riachão, onde meus pais moravam, era uma roça.

No entanto, a saudade que sentia dos meus pais era forte, e me fazia ir aos fins de semana para o Riachão. Meu pai me levava de Santana até Riachão em um jipe velho e lá conversávamos deleitosamente.

Nessa época, eu já me interessava por música, mas sem muitos recursos, improvisávamos, eu e meus amigos, brincadeiras com vassouras velhas, pedaços de madeiras, latas de querosene e baldes quebrados que serviam de violões e tambores, sempre acompanhados com as nossas belas cantorias.

Certa feita, em um fim de tarde de sexta, que eu não havia vendido os meus picolés – maneira de arrumar alguns trocados –, planejamos, eu e meu primo Arisvaldo, cansados de jogar bola durante o dia, a maneira de ir para a casa de meus pais, considerando que estávamos sem dinheiro algum. Chegamos à conclusão de que deveríamos procurar alguma carona sem necessariamente explicitar nossa condição financeira, apesar de não ter sido difícil de perceber devido aos nossos andrajos. Encontramos então um sujeito que fazia aquele percurso e que concordava em nos levar em seu caminhão, que para nossa sorte ou azar, era de carroceria.

Viajamos então, na calada da noite, acompanhada do soturno luar, do cheiro doce de orvalho embevecida no sereno e aspirando a poeira quente da estrada.

Tudo era um breu infinito, quando, depois de um bom tempo, reconhecemos a proximidade ao qual nos encontrávamos de nossa casa, e começamos a nos inquietar, pois não tínhamos dinheiro para pagar a viagem.

Foi então que Arisvaldo percebeu que não teríamos outra saída a não ser pularmos logo, para não sofrermos danos maiores.

Jamais esquecerei as minhas feridas que no momento me doeram na pele, mas que hoje me fazem rir nostalgicamente, assim como jamais me esquecerei do carinho que minha mãe Maria dedicou-me com sua típica farofa de ovo e carne seca, no momento em que, sujo e machucado, adentrei em sua casa.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Quarta espécie.

Vamos falar sobre problemas que hoje eu estou desocupada.

Na verdade nem estou, pois fosse assim e eu não teria nada para escrever. Mas vamos ao que interessa.

A vida é um encadeamento de dissonâncias que se resolvem em tempos fracos para formarem outras novas cacofonias melódicas justamente em tempos fortes. O problema é que a consonância do tempo fraco permanece tempo suficiente para se tornar uma dissonância.


E eu pergunto a você: Por que estou escrevendo esse texto problemático nesse dia que não foi bem planejado, bem executado, para que poucas pessoas - mais precisamente vocês, meus caríssimos leitores - apreciem, sendo que tenho outros milhares de detalhes que deveria resolver e que ficam sempre suspensos devido a minha imaturidade em ter a sabedoria e a experiência necessárias para lidar com tais e tais situações que são simples, mas eu complico. Momentos em que me falta organização, diciplina e boa vontade como por exemplo publicar uma postagem dessas.

Claro, devemos começar pelos problemas. Sempre. E por que? Porque eles dão mais trabalho. Eles ficam no pulso cheio.

Por que complicamos tanto a vida se ela pode ser tão simples quando apenas vivemos? Por que questionar tanto a respeito da vida, de problemas? Por que? E então eu chego em uma simples conclusão. Notaram? Alcançar um entendimento definitivo sobre algo superficialmente investigado é medíocre. É coisa de gentinha.

Eu faço parte da gentinha.

E voltando aos meus problemas, pois o meu ego é a coisa mais importante dessa página, tenho que admitir que nem mesmo as infinitas páginas do Word aguentariam as minhas lamúrias imfames.

Mas eu não vou enumerá-las, pois já está tarde para minha paciência.

Queria dizer que o processo da vida é interessante. Nascer, crescer, descobrir, reproduzir envelhecer, contribuir e morrer. Sim, eu já abordei isso em outros carnavais, mas não é especificamente isso que mais interessa.

É bom ter o prisma belo da existência. É agradável olhar o que conquistamos e toda a açucarada calda de ideologias que tramaram o cenário dos nossos sonhos. Mas também faz parte o olho negro.

Faz parte reconhecer como somos loucos sofredores que lutam e caem, e levantam, e apanham, e entregam a alma por um sorriso ou um pequeno prazer incognoscivelmente menor que a mais barata ideologia. Porque nossa matéria é fugaz. Tudo isso aqui acabará. Ficando assim os sonhos e as ideologias, porque elas fazem parte da nossa essência.

Outro problema digno de nota é a insatisfação. Somos criaturas insaciáveis. Nunca basta conhecimento, matéria, amor, felicidade. Sempre queremos mais. E mesmo quando estamos bêbados de contentamento, nosso espírito não cessa de pedir e sempre mais.

Mais um problema queira meus dedos o último pra não tumultuar muito: a perda.

Os que se dizem violentamente desapegados - se é que existem - que me perdoem, mas perder sempre doi. Só não doi quando nunca consideramos nosso aquilo que se foi. E pior que mesmo assim corremos o perigo de passar a considerar só porque já não cabe a nós decidir nada.

Os problemas são as dissonâncias que como na quarta espécie do contraponto palestrínico estão nos tempos fortes e escondem a consonância que virá sincopada no tempo fraco quase que "só de passagem". Esse movimento oblíquo é a vida.

Existem alguns desses sons "desagradáveis" para um outro determinado contexto histórico da minha vida que ainda estão ligados no compasso da minha existência presente e não permitem que eu preste atenção no tempo fraco, mas hoje, depois de exatamente dois anos eles ficaram muito insignificantes.


Espero pelas novas dissonâncias, porque doravante elas estarão inseridas contrapontisticamente em um novo estilo.

Amém.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sem interesse.

É incrível, meus leitores, como a vida segue um caminho diferente do que imaginamos ou planejamos.

Somos crianças e pensamos que toda a nossa eternidade será composta de obrigações e brincadeiras. Se fizermos tudo direitinho que o papai e a mamãe pediram, teremos o doce, ou o direito a brincadeira com os amiguinhos. E vamos seguindo, brincando, chorando reclamando até as primeiras manifestações da puberdade.

Tornamo-nos rebeldes com o mundo com a vida, com os outros, com nós mesmos. Outras pessoas que não tem nada a ver conosco nos influenciam, nos manipulam até nos tornarmos jovens mais críticos, ou menos alienados.

Ai batemos na porta da maturidade. As vezes arrombamos com violência, outras vezes tentamos adiar essa entrada, sempre querendo prolongar um momento que nem existe mais.

É ai que significativas descobertas acontecem. Provamos o amargo jiló da vida, percebemos que nossos sonhos de outrora eram grandes demais, e não passavam de utopias, meninisse.Percebemos que não existe mais as asas quentinhas da mamãe e do papai, o momento de pensarmos só em nosso cotidiano banal, e nos preocuparmos com o nosso umbigo; não temos mais essas muletas e o que temos são asas frias, atribulações e muitos umbigos. Então acordamos nesse novo lugar que é a realidade sem nenhuma proteção.

Acontece que entrar nesse novo mundo é mais uma mudança nos nossos padrões. Esquecemos de trazer as nossas utopias, meninisses eesvaziamos a mala de sentimentos e pensamentos.

Somos outros seres.

Acontece o mesmo com os que amam.
Quando criança, temos as bobeiras de infância. Timidez, vergonha. Quando na chama da puberdade temos as primeiras ideias de loucuras, a coragem, o apego. E finalmente a partir da maturescência desapegamos, e nos confortamos em pequenas ideias, reprovamos as indecorosas ideologias, e nos tornamos bons bugueses não necessariamente com o peculiar ornamento pecuniário, mas com o mesmo espírito.

O engraçado é que com a mesma rapidez que nos apaixonamos, esquecemos e nos apaixonamos novamente.

Tolos são os que ainda esperam o fim da inconstância.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Dois cristais.

- Valois, cheguei a uma conclusão.
- Pois então diga.
- Meu vazio existe porque eu nunca amei.
- Oh, isso é bárbaro.
- Mas gostaria de de contar-lhe dois preciosos dias que considero os mais lindos da minha existência.
- E por que eles sãos os mais lindos?
- Por que meu vazio foi efêmera e misteriosamente preenchido. E neles eu conheci o amor.
- Conte-me então.

Estava eu, uma doce menina dos olhos soturnos, em minhas ocupações infantis. A saber: dormir, brincar e indagar pro espaço sobre minha existência solitária. Eis que um grande homem- em espírito e em matéria- me leva para uma extraordinária aventura em nossa casa praiana.

Eu gostava muito de ir a esse lugar, pois lá eu me sentia feliz. Tinha apenas um amigo, o meu vizinho, mas a tranquilidade daquela aromático ambiente baixo-serrano, o seu cheiro penetrante de areia e sal, além do saboroso azul que o céu e suas inebriantes brisas me agraciavam, faziam com que eu acalmasse qualquer inquietação que calundasse em me apoquentar.

Ademais, aquele Hércules de amor e paz, com seus sorrisos me fazia sentir uma pessoa amada, querida. Me fazia sentir uma pessoa, me fazia sentir, me fazia. Me fez.

Fomos nós, só nós. Sem as reclamações de meu capanga consangüíneo e uterino, sem a exprobação vociferante da minha criadora. Sem a tristeza companheira, sem o tédio infame dos ingratos e sem nenhum resquício de mágoa- pois ela ainda não existia.

A sonolenta manhã foi marcada por uma longa e dialogada viagem. Descendo a Serra conversamos e tivemos a melhor viagem de ônibus da minha história. Qualquer gesto, palavra ou imagem que escorreu feito líquido dos dedos de minha memória, sacramentou-se em meu coração.

Aquele ser de extrema bravura trabalhou na construção de vigas de suporte para telhas durante horas na tarde em que eu colhia flores, explorava os silenciosos recantos de uma casa semi-abandonada, brincava com caramujos e ouvia o contraponto dos passarinhos.

De repente, o meu vazio foi esvaziando-se como bexiga que ao passar dos dias murcha feito mamilos arrepiados em dias de frio. Distraída com os alegres raios de sol não atentei para aquele detalhe que foi natural como um instinto. E belo como as sensuas Partitas para violoncelo de Bach.

Mas o crepúsculo já nos cumprimentava, e o nosso silêncio lírico era acompanhado pelo canto das cigarras com a harmonia schoenberguiana dos diversos insetos nas suas frases sinfônicas inusitadas.

Já era tempo de adormecer.

E foi então que deitamos na rede, aquela grande amiga das reflexões e das pessoas amadas. E eu abracei aquela figura que foi indubitavelmente a razão do meu viver.

Ele contou-me histórias de sua triste vida para que eu dormisse, mas sempre com aquele toque de alegria e um não-sei-que melódico. Era bonito ver como ele me amava, me protegia e me considerava a pessoa mais importante de todas as suas encarnações.

E foi nesse mesmo momento - ah, mas que bela lembrança!- que ele adormeceu com suas próprias reminiscências e magníficos carinhos que me permitiam transcender essa realidade cruel e sólita. Adormeceu e eu chorei.

Chorei por que tive medo que ele nunca mais acordasse, nunca mais me protegesse e estivesse ali para me consolar. Mas também chorei por me sentir insignificante diante de tamanha grandeza, por talvez não ser digna de tanto afeto.

Logo em seguida me senti bem, porque estava vivendo o momento mas bonito da minha existência e, por algum motivo que não sei, sabia disso.

Auscultando as batidas de seu coração e tentando sem sucesso respirar no mesmo andamento que ele, senti, a cada segundo, minha existência se encher de algum material incognoscível. A sensação foi inexplicável.

Sei que o amor então me envolveu com uma suavidade educada. E senti, naquele repouso noturno, que eu era a pessoa mais completa do mundo. Isso não foi euforia ou felicidade, tampouco prazer ou êxtase. Isso foi a afirmação mais categórica de que eu existo em realidade.

- Bravo! Bravíssimo!
- Ainda não terminou, falta mais outro.
- Pois prossiga, minha querida.

Dez anos aproximadamente me separam desse relato e me transpõe para outro dia em que neguei o vazio.

Muita coisa mudou, meus cabelos cresceram eu de certa forma cresci e a doce menina dos olhos soturnos perdeu quase tudo o que tinha de brando e taciturno.

Mas algo ainda permanecia. Sua essência, quem sabe.

De semelhante, temos o dia de sol, sem o clima praiano, mas pianístico e refrescante.
Lembro-me bem. Foi em um dia de limpeza, no feriado dos negros, que fui chamada para um passeio com doces, sorvetes e direito a conversas recheadas de ósculos e amplexos.

Fui com o meu vestido que me deixava mais meiga e tomei o banho que me deixava mais perfumada. A falta de assiduidade me angustiava. Sempre me chateia. Mas logo o tal cara chegou.

Conversas amigáveis e sem muito conteúdo -pensar muito afasta as pessoas mais vazias- como programado, aconteceu, e a tarde transcorreu com uma dose de monotonia necessária, posto que me deixou ao lado de pessoas que não me agradavam por serem desconhecidas.

Mas o cara, em um gesto insólito, modificou tudo isso e me salvou, deixando de brinde a satisfação do maior anseio do meu vazio: ser completado.

Talvez o cara nunca percebeu, e nunca mais perceberá o quão significante esse gesto foi para mim, se é que o cara alguma vez percebeu que algum gesto seria ou não significante para mim. Se é que alguma vez eu permiti que o cara percebesse alguma coisa, se é que alguma coisa precisasse realmente ser percebida.

O fato é que o entardecer nos convidou para um repouso de ideias. Como se naquele momento eu precisasse parar meus sentimentos e pensamentos para dar vasão aos meus sentidos.

Naquele momento, o tempo parou. A minha solidão se fez ausente.

Posso pular nossos gestos, imagens, palavras- se elas participaram- e ir direto a mim mesma, que é o mais importante.

Eu repousei minha face no colo dele e auscultei seu coração, rejeitando gás carbônico no contratempo em que ele absorvia oxigênio, pois dessa vez eu tinha fôlego para tal.

Então o amor apareceu e tocou no fundo do meu coração com seus dedos leves e delicados. Foi um toque deveras suave e profundo em imponência. E foi ai que novamente minha existência se encheu do mesma tal matéria incognoscível.

Percebi que qualquer prazer, seja ele sexo, alimentos, noites de sono, fartas gargalhadas ou alegrias estonteadoras por divertidíssimos motivos não tem o mesmo calibre que essa grandioso sentimento que me visitou. Por que o somatório de todos esses reles prazeres é ultrapassado em numerosos graus por migalhas de amor ou pequenas gotas de sentimento dessa jaez.

E por isso, deitar meu rosto naquele cerviz, naquela rede qualquer por um tempo indeterminado, incalculável e inexistente, era melhor do que qualquer outra situação, pois ali, naquele escaninho de paz, eu tinha o amor do meu lado, ao meu redor, dentro de mim.

Foi a melhor maneira de me fazer alguém de verdade.
Foi uma eternidade efêmera e confortável.
Fui eu mesma.

- Sim. Entendo.
- E guardo essas duas lembranças como fotos de um momento que eu amei. Mas hoje sei que amei apenas o momento. Eu amei apenas o amor.
- E como se ama o amor?
- Não sei. Não sei como se ama. Sei que um dia se ama. Pode não ser como eu, na praia, no sol, na rede, duas vezes. Mas de alguma maneira o amor se manifesta. Só que eu nunca amei ninguém além do amor.
- Um dia tu amarás.
- Um dia eu morrerei.
- Mas antes disso negará sua morte no amor.
- Valois, você é interessante.
- Por quê?
- Pelo que diz.
- E qual é o problema?
- Você não existe. E por isso é o vazio mais completo que eu conheço.
- Você é uma figura, garota.

Um dia talvez amarei algo além do amor, e saberei disso, porque doravante esse dia, meu vazio se extirpará e só voltará a mim quando meu corpo estiver inerte.

Obrigada.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Novos Frutos

Pois é, o tempo passa.
Sim isso é obvio, mas é lindo.

Esperei por alguns longos meses e finalmente aconteceu o que acontece com o tempo.
Ele passa. E deixa para trás o que é do passado. E me mostra as boas sementes que já podem ser cultivadas em boa hora.
Já é tempo de novas frutas, novas plantas, novas raízes, mas o medo ainda insiste.

- E qual seria esse medo, meu caro Valois?
- Talvez a insegurança, a imaturidade, a incerteza, essa sua falta de chão.
-É, talvez sim, talvez não. Mas acostumei-me com a mesmice. Tudo continua como sempre, e eu continuo com o medo de encarar esse tudo, que na verdade é um grande nada. Vazio incomesurável.


Ah, sim, como eu gostaria dessas novas sementes que brotam e geram novos frutos nesse inusitado tempo, mas não posso, não quero, não quero poder, não tenho poder, não posso querer.

- E por que?
- Não sei. Eu sei que não é o momento.
- E quando será o momento?
- Talvez ele não exista. O que existe pode ser o vazio.

Alguma parte de mim não queria que a nova espécie fizesse parte da minha existência, e aquela parte insistia que eu desistisse. Mas eu ainda queria. E ainda quero.

Talvez seja isso tudo bobagens, banalidades de quem já não tem mais o que pensar, o que fazer, o que dizer, o que viver. Futilidades de alguém tão vazia como o momento que seria adequado transbordar o vácuo da minha existência de inutilidades.

-Sei lá.

Mas há um motivo. E ele transcende qualquer má vontade de viver. Esse motivo é próprio pretexto que guia o sentido da minha vida. É complexo: Se eu ignoro esse motivo, vivo sem o guia do sentido da minha vida, mas se eu o respeito, vivo sem vida, sem sentido. O que fazer? Mudar para onde? Por que?

- Já sei que não adiantam procrastinações. Agora é o tempo de plantar essas novas sementes que um dia crescerão e formarão árvores com novos frutos e esse é o sentido da minha vida. Em que sentido, Valois?
- No sentido que você sente ser o certo para sua existência e para os que você ama.
- E será mesmo que eu os amo?
- Será mesmo que eles existem?
-Não sei. Isso tudo é muito complicado. Mas eu sinto o momento chegar e abordar: é agora!
- Como pode ter certeza? O momento já te abordou em outras ocasiões e eles estava errado.
- O que está certo então, Valois?
- O tempo, minha querida. Ele sempre está certo.

Talvez eu devesse esperar o ciclo se repetir e agir apenas no próximo ano. Mas não sei. É complexo. Minha boa vontade concorda com esse momento de vazio. Momento de realizar o vazio que me preenche muito mais que a solidão, mas não sei. Sou irresponsável, Valois, mas quero. E aprendi que sobre as coisas que não são da razão deve-se fazer sempre o que é contrário a inovação. O prazer, meu caro Valois, é sempre o mesmo.

- Mas você prezara as coisas da razão e concluira que o tempo te daria prêmios que pertencem a razão.

Mas o tempo passou levando consigo algumas pessoas, conceitos, ignorâncias, recordações, pedaços da minha história que, sendo bons ou ruins, foram necessários. Sendo o vazio equivalente tanto se eu optar pelo motivo ou pelo momento, eu decido que é melhor seguir pelo desconhecido, que talvez seja inovador por ser o tempo a foice que destrói qualquer marca nostálgica de um acontecimento pretérito.

- Sim, Valois, a vida é o que há de mais belo.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Para um amigo.

Prezado amigo,

Sei que você não está passando por um bom momento, e sinto-me envergonhadíssima de minha felicidade, pois parece-me que quanto mais alegria tenho, mais tristeza você tem. Gostaria de poder te abraçar, ou mesmo te ligar- perdi seu telefone com minha desorganização básica- mas não teria toda essa coragem. Se tivesse seu endereço mandava-te uma carta bem bonita, com generosas palavras. Mas não sei direito o que dizer. Nem mesmo sei se tenho o que dizer.

O fato é que ocorreu um esforço da sua parte para que as coisas fossem diferentes, sei, e talvez até melhor que você, se me permite dizer, que tudo isso que você agrega em termos intelectuais será mantido e aperfeiçoado dentro da sua existência. Obviamente você ficou triste, chateado, como ficou das outras vezes; entendo essa tristeza pois já passei por ela, mas também entendo o seu empenho em continuar lutando pela essa conquista que ocorrerá a medida que você persistir em teus ideais.

E sobre conquistas, gostaria de agradecer a grande amizade que você me proporcionou durante esse ano que passou. Aguentou o meu mal humor, minhas rudes palavras, ásperas expressões e agressividades peculiares da minha suposta personalidade. Deu-me valiosos conselhos, preciosos consolos, simpáticas tardes com filosóficos almoços, sempre muito intelectuais, e auxílios em matérias que se tornam inúteis para mim, mas que outrora foram de grandiosa importância.

Saiba, como é de se imaginar, que nada é para sempre, de que seu momento de luto passará, como passaram os dias da nossa história. Talvez não nos veremos tão cedo, talvez nos veremos mais cedo do que supomos, mas isso já não é assim tão importante.

Também não se esqueça que você marcou a minha história assim como eu marquei a sua, e que uma parte de mim será sua e uma parte de você, minha.
Isso não é despedida, só uma demonstração de alteridade e um desejo de que você não perca a energia em sua luta, independente do que outras pessoas, que nem querem tanto o seu bem assim, digam, façam ou queiram. O importante é sempre você.

Continuarei na torcida por sua vitória que ocorrerá.
Foi um prazer te conhecer cara,


Abrações
Beatriz Oliveira.

PS:Você é um ser humano deveras fantástico.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Diálogos psicóticos.

-Mas qual seria então a explicação para esse sofrimento?
-Que sofrimento, minha cara?
-Não sei bem.

E ela meneava suas mãos aturdida em reflexões.

-Acho que é o vazio.
-E qual seria o problema do vazio, que te preenche de tristezas?
-Ele é meu maior companheiro, está sempre por aqui, e por ali e dentro de mim.
-Mas você tem a mim!
-É... Eu sei.

Talvez tudo aquilo não passasse de muita brincadeira e talvez tudo seria muito bonito.

-Valois.
-Sim?
-Por que tudo não passa de uma simples brincadeira?
-Mas não é real. É fantasia. Seu vazio talvez exista em algum lugar.
-Em que lugar?
-Não sei, tudo é muito confuso para mim. Vamos começar novamente.

E Valois girava seu chapeuzinho no dedo indicador, em um gesto muito peculiar.

-Quando foi a última vez que sentiu essa insensibilidade?
-É sofrimento.
-Sofrimento pelo vazio?
-Não, é vazio de sofrimento.
-Ausência?
-Presença da falta.
-Entendo.
-É complexo.
-Explique.

A moça pensava em sua rotina, no sentido de sua vida, e tudo ficava cada vez mais nebuloso. O que era ela?

Ela não passava de um frio pedaço de carne que queria transcender sua humanidade.
Talvez se ela se aproximasse de sua essência seu vazio diminuiria.

Mas sua essência era vazia. E seu vazio, angustioso.

O que representariam todos aqueles livros, aquelas cartas de amantes amadores, aqueles velhos álbuns de seres já inexistentes em figuras mortas, aquelas folhas sonoras, os antigos discos. Tudo era silêncio. Como os lindos campos da burguesia silenciosa, tudo era oco. Sem amor, sem ódio, sem vida.

-Salve-me, meu querido Valois!
-Não posso, minha menina. Não posso te salvar de você mesma, pois só há uma pessoa que salvaria.
- Quem?
-Aquela que habita tua alma.

E foi-se embora no mesmo piscar de olhos, pingando as últimas gotas da solidão.