quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Diálogos psicóticos.

-Mas qual seria então a explicação para esse sofrimento?
-Que sofrimento, minha cara?
-Não sei bem.

E ela meneava suas mãos aturdida em reflexões.

-Acho que é o vazio.
-E qual seria o problema do vazio, que te preenche de tristezas?
-Ele é meu maior companheiro, está sempre por aqui, e por ali e dentro de mim.
-Mas você tem a mim!
-É... Eu sei.

Talvez tudo aquilo não passasse de muita brincadeira e talvez tudo seria muito bonito.

-Valois.
-Sim?
-Por que tudo não passa de uma simples brincadeira?
-Mas não é real. É fantasia. Seu vazio talvez exista em algum lugar.
-Em que lugar?
-Não sei, tudo é muito confuso para mim. Vamos começar novamente.

E Valois girava seu chapeuzinho no dedo indicador, em um gesto muito peculiar.

-Quando foi a última vez que sentiu essa insensibilidade?
-É sofrimento.
-Sofrimento pelo vazio?
-Não, é vazio de sofrimento.
-Ausência?
-Presença da falta.
-Entendo.
-É complexo.
-Explique.

A moça pensava em sua rotina, no sentido de sua vida, e tudo ficava cada vez mais nebuloso. O que era ela?

Ela não passava de um frio pedaço de carne que queria transcender sua humanidade.
Talvez se ela se aproximasse de sua essência seu vazio diminuiria.

Mas sua essência era vazia. E seu vazio, angustioso.

O que representariam todos aqueles livros, aquelas cartas de amantes amadores, aqueles velhos álbuns de seres já inexistentes em figuras mortas, aquelas folhas sonoras, os antigos discos. Tudo era silêncio. Como os lindos campos da burguesia silenciosa, tudo era oco. Sem amor, sem ódio, sem vida.

-Salve-me, meu querido Valois!
-Não posso, minha menina. Não posso te salvar de você mesma, pois só há uma pessoa que salvaria.
- Quem?
-Aquela que habita tua alma.

E foi-se embora no mesmo piscar de olhos, pingando as últimas gotas da solidão.

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