domingo, 5 de fevereiro de 2012

Vida vida, linda vida.

Valois, mais uma vez preciso muito de você.
Eu já não sei o que fazer com a miséria do meu silêncio que grita desespero. Falta de esperança em conseguir mudar tudo isso de ruim.

- Conte-me, minha cara, escutar-te-ei como sempre.
- É algo que nem sei bem como explicar.
- Comece pelo começo, ou por aquilo que se inicia agora em vossa mente.
- Mais uma vez eu errei.
- Natural de todos vós, seres humanos.
- Mas eu estou contra a maré. Mais uma criação que nasce com toda a formação da maldade. Sim, foi a primeira do ano infectada de pensamentos ruins.
- Sim, eu entendo.
- Mas não deveria ser assim, deveria?
- Minha querida, essa nova não nasceu como as dos anos anteriores. Ela já está madura, florida, veloz em seu processo de crescimento. Isso tu não podes negar. Atenha-se aos ganhos, pois de infortúnios adornamos a tristeza. Aliás, das coisas notáveis que tu perdeste eis o senso crítico.
- Sim, esse eu notei que me foi embora.
- Perdeis o senso crítico que vos permitia olhar para as diversas criações e distinguir o joio do trigo. Tu não consegues mais aprecia-las por não quereres reconhecer qual é bela, qual é admirável, das incontestáveis excrescências. E isso, anjo meu, é a vossa pior perda.
- Mas e minhas jóias? E minhas expectativas?
- Não. Tu nunca tiveste jóias para perderes. Elas jamais foram tuas. Tu não conquistaste jóias, tu não floriste teus jardins, tu não semeaste tuas planícies, tu não lutaste para bem algum, espiritual ou material. Tuas expectativas foram apenas ilusões. Teus desejos não dependiam apenas da vossa pessoa para se concretizarem, e por isso não eram importantes.
- Eu sei. Mas por que a angustia? Por que essa náusea todas as vezes que penso nessas jóias, se elas nem ao menos são minhas, se elas nem ao menos se importam comigo? Por que essa dor e esse vazio mesmo com a ordem material e espiritual? Por que não ser simples? Simples como a realidade, como a beleza, como uma criança? Por quê?
- Tu tens a resposta, anjo meu. Tu elaboraste teorias precisas sobre o sofrimento que naturalmente também são aplicáveis a ti. Deveis reconhecer que passará. Acabarão todas essas mazelas, e o bem triunfará. Mas é preciso lutar. Seu esforço se faz necessário. Tens já amadurecida a consciência de que não permaneceis ai, humana, de férias, em busca de felicidade, pois a felicidade se compõe de satisfações, e estais em um mundo de humanos com necessidades matérias.
- E daí?
- E ai que és espírito; e a felicidade de um espírito está além de toda essa calda bruta de mediocridade. Não podeis ainda compreender o que é isso. Falta-lhe conhecimento, falta-lhe depuramento moral, falta-lhe não precisar mais de humanidade, matéria, tua realidade sensorial. E como conseguir, tu aprendeste. Sim, é necessário ainda ser humana, o trabalho, as provações as expiações, as alegrias simples, as satisfações materiais para que se atinja o cume, e o que está além é o primeiro grão de entendimento da magnitude. Não estais sofrendo, querida. Lembra-te que sempre estamos contigo, que o auxílio providencial sempre recorrerá às tuas necessidades. E tranqüiliza-te a alma.
- Compreendo.
-Faz a tua parte, façais com amor, façais da melhor maneira possível e com destreza de vossas ferramentas e não tornes a perder os teus maiores valores.

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